São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Galinha dos ovos de ouro

O saudável esforço para atrair investimentos de montadoras pode ultrapassar o desejável se implicar o desinvestimento da indústria de autopeças. O conhecido poder do setor automobilístico para alavancar a economia e o emprego corre o risco de ser significativamente reduzido se o governo mantiver alíquotas de importação de 70% para carros prontos e reduzir de 18% para 2% a tarifa para componentes.
O consumidor não é necessariamente beneficiado, posto que o bem final está protegido da concorrência externa. Do ponto de vista da balança comercial, ademais, a medida parece inconsistente, pois a importação de peças também é paga, evidentemente, em divisas.
O principal óbice, entretanto, está no fato de que tal medida agravaria o desequilíbrio de poder nesse mercado. As indústrias de autopeças, que já operam em concorrência, seriam espremidas. E as grandes montadoras, que não chegam a dez, fortalecidas.
Seria algo como, na fábula, matar a galinha dos ovos de ouro. A falência de parte expressiva das autopeças -que chega a ser estimada em até 30% mesmo dentro do governo- elimina uma fonte de receitas e empregos sem proporcionar em troca um ganho de bem-estar para os consumidores.
Devem-se evitar, portanto, medidas que agravem a concentração empresarial. Um processo de reestruturação da indústria que reduza setores competitivos e fortaleça oligopólios prejudica o controle da inflação. Quanto menor o grau de concorrência na economia tanto maior a recessão e o desemprego necessários para conter os preços.

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