São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Para Toffler, desemprego é maior problema

DA SUCURSAL DO RIO

O futurólogo e escritor norte-americano Alvin Toffler, 66, disse, em entrevista exclusiva à Folha, que a sala de aulas convencional é um equipamento de ensino da segunda onda (era industrial) e começa a ser inadequada na era da informática (terceira onda).
"Nos países de baixo nível educacional, o sonho é ter uma vasta rede de escolas convencionais. Isso talvez seja um raciocínio errado. O método deve variar de acordo com as condições sociais e econômicas locais", afirmou.
Alvin Toffler é o autor do bestseller "A Terceira Onda", no qual divide a evolução da humanidade em três etapas: uma agrícola (primeira onda), uma industrial (segunda) e a atual, que seria do conhecimento e da informática.
Na semana passada, ele esteve no Rio participando de um seminário e lançando seu novo livro, "Criando uma Nova Civilização" (Ed. Record), escrito em parceria com sua mulher, Heidi Toffler.
Ele disse que o desemprego é o grande problema da sociedade na terceira onda e afirmou que "sem educação não há esperança" de eliminar o fosso entre sociedades ricas e pobres.
Toffler sugeriu que um dos métodos educacionais seja algo parecido com a proposta do educador brasileiro Paulo Freire, aplicada em comunidades carentes em combinação com programas de assistência social. Ela consiste em educar associando letras e palavras a objetos familiares aos alunos.
Para Toffler, as crianças poderiam combinar aprendizado e prestação de serviços à comunidade.
VALE-ESCOLA
Outra idéia de Toffler é a eliminação do Estado como responsável direto pela educação básica. Ele acha que a escola estatal "não tem incentivo para melhorar" e sugeriu que o Estado apenas financie o ensino.
Os pais dos alunos receberiam uma espécie de vale-escola, que seria usado exclusivamente para pagar a mensalidade de uma escola livremente escolhida.
A sugestão de Toffler é inspirada em um programa do governo dos EUA para soldados que retornaram da guerra do Vietnã.
Eles receberam crédito para pagar escolas que quisessem cursar, como forma de o Estado compensar o tempo que perderam na guerra. "Nos Estados Unidos, essa foi considerada uma legislação social muito bem-sucedida", disse.
DESEMPREGO
Toffler disse que ele e sua mulher pensam em reunir dados para escrever um trabalho sobre o problema do desemprego, que, para ele, não está claro que seja decorrente do avanço tecnológico.
Ele afirmou que no Japão há um alto grau de desenvolvimento tecnológico, "talvez até maior que nos EUA", e não há um nível elevado de desemprego, como na Europa.
Ele entende que há causas culturais e institucionais para o desemprego, que precisam ser mais bem estudadas, e admite não ter uma proposta definida para o problema.
PRODUTIVIDADE
Toffler disse também não ter "ainda" resposta sobre como medir a produtividade na terceira onda. Segundo ele, há várias pessoas estudando não apenas esse assunto como a definição de uma nova economia. Entre elas, estariam os economistas Paul Ramer (EUA) e Hernando de Sotto (Peru).
Para Alvin Toffler, a economia como hoje existe seria "uma disciplina da segunda onda" que só conseguiria captar "uma parcela mínima" das relações, e não as "transações não-monetárias".
Ele comparou o economista de hoje a um bêbado que perdeu suas chaves, à noite, ao longo de um grande trecho de rua, mas que insiste em procurá-las apenas sob um poste, por ser o único lugar onde há luz.
AGRICULTURA
Toffler citou o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) brasileiro como um exemplo de agricultura da terceira onda, onde a produção de alimentos não é o único objetivo.
Ele previu que no futuro será possível até a produção agrícola de biochips -tipos de chips de computador de origem vegetal.
Toffler não detalhou sua idéia, mas lembrou que há 30 anos, quando ele previu o uso generalizado do computador, também não mereceu crédito.
A agricultura da terceira onda é também, segundo Toffler, uma atividade de precisão, utilizando satélites para medir exatamente o que é necessário para se cultivar um metro quadrado de terra.
Toffler disse que somente agora os EUA começam a dar os primeiros passos nesse caminho.
O futurólogo recomendou que o Brasil dê ênfase à agricultura destinada ao consumo interno. Ele considera "um crime" que haja fome em um país com o potencial agrícola brasileiro.

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