São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para secretário, 'boatos' e peso derrubaram Bolsas

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, diz que os mercados viveram três dias de nervosismo "com base em muitos boatos e em um único fato: o peso mexicano foi desvalorizado".
Para ele, a partir de "pedaços de notícias" (como a internação do presidente russo, Boris Ieltsin), os mercados "tiraram ilações" para "construir volatilidade".
Volatilidade é a oscilação de preços -no caso brasileiro, especialmente das ações- que permite aos operadores e instituições financeiras obter ganhos (ou ter perdas).
Mendonça de Barros diz que há um erro de interpretação nos que afirmam que o Brasil sofreu consequências com a crise do México, em dezembro passado, por causa das características do Plano Real. "Até sem o plano, o Brasil teria sofrido da mesma forma. A globalização é um dado do momento histórico."
O fato de os mercados estarem interligados torna os países mais vulneráveis, especialmente os periféricos. "Nem só eles", lembra o secretário, ao citar o caso da libra esterlina (moeda britânica).
Para ele, "mais do que o câmbio, a âncora básica (o ponto de sustentação) do Real é a abertura da economia", que forçou os produtores locais a buscar eficiência para competir.
Mendonça de Barros diz que o Real está sendo bem-sucedido justamente porque foi concebido "na direção da história". Ou seja, a abertura da economia acabou se processando em um momento de globalização dos mercados.
O secretário fez questão, no entanto, de afirmar que "hoje o país está em uma posição muito melhor do que a que vivíamos em dezembro passado".
Voltaram os superávits comerciais (exportações maiores do que as importações) e as reservas internacionais (o caixa do país em moeda forte) está, avalia o mercado, na casa dos US$ 50 bilhões.
"As exportações mostraram uma tendência, mesmo quando a demanda interna estava muito aquecida, de crescimento persistente", diz, para depois acrescentar: "Os resultados do movimento de câmbio até a terceira semana projetam exportações, este mês, da ordem de US$ 4,4 bilhões, o que é um excelente resultado."
Mendonça de Barros concorda com a avaliação de que, hoje, o nível de consumo está andando acima do nível de produção. Essa diferença está sendo atendida por um processo definido por ele como "digestão de estoques".
No caso dos carros, por exemplo, com reexportação ou liquidações a preço de custo, o estoque de importados que lotava os portos já baixou de 70 mil para algo próximo de 30 mil veículos.
O secretário citou um estudo da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que mostra que, até junho, a produção superava o nível de consumo (estava fabricando estoques). Agora, as linhas estão invertidas.
Ele afirma que o governo enxerga esse movimento com "tranquilidade". Nem o crescimento do consumo no Natal assusta.
Citando as expectativas dos comerciantes paulistas, Mendonça de Barros afirma que o nível de consumo no Natal deste ano deve ser "igual ou até 5% menor do que o do ano passado. O que é muito manejável".
Ou seja, existe espaço de capacidade ociosa na indústria local, ou mesmo de importação para desenhar um Natal "sem falta de produto, que era o grande receio".
Além disso, lembra o secretário, ao contrário do que aconteceu neste ano, o primeiro trimestre de 96 não deve registrar demanda explosiva. "Por isso, o comércio não deve ficar temeroso de, se for o caso, queimar seus estoques em dezembro."
Mendonça de Barros, como os analistas do mercado, prevê uma curva de inflação comportada até o final do ano. Algo próximo de 1,8% neste mês e 1,2% em novembro e em dezembro.
"O mais importante é que, neste último trimestre do ano, vai haver uma convergência entre o IPC da Fipe (que mede a variação dos preços no varejo) e os IGPs (medidos pela Fundação Getúlio Vargas, em que pesam os preços praticados no atacado)", afirma.

Texto Anterior: Reformar, poupar, crescer
Próximo Texto: México corre risco de nova crise econômica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.