São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995 |
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Boatos cercam ministro Cavallo
DENISE CHRISPIM MARIN
Os reflexos dessa instabilidade saíram dos limites da Bolsa argentina, que acumulou perdas de 5,3 pontos percentuais, e alcançaram o mercado acionário em São Paulo. Na noite de quinta-feira, em Bariloche, Cavallo deixou os panos quentes de lado e atacou, em um programa de televisão, grupos ligados a Menem que estariam interessados em sua substituição. "Há setores marginais do governo que operam para que eu deixe a equipe econômica", afirmou. "Um deles é representado por Gerardo Sofovich", completou o ministro, citando o jornalista e amigo pessoal de Menem. O presidente preferiu não responder à declaração. Sofovich disse que a economia argentina está "em estado vegetativo". Cavallo, mais uma vez, demonstrou que sua estratégia é se defender atacando. Já havia utilizado o método em agosto, quando reagiu diante dos boatos de sua renúncia denunciando as "máfias" que agiam no governo. Ontem, entretanto, o ministro preferiu baixar o tom. Afirmou que está "permanentemente falando com Menem" e se recusou a responder às perguntas sobre sua permanência no governo. Para analistas econômicos e políticos, a tática de Cavallo parece eficaz. Pelo menos enquanto ele mantiver o respaldo de investidores e banqueiros estrangeiros. Segundo o economista Roberto Frenkel, diretor do Cedes (Centro de Estudos de Desenvolvimento Econômico e Social), a continuidade de Cavallo não é mais vista como garantia da preservação da política econômica. Os investidores já não acreditam que sua saída possa alterar a taxa de câmbio (US$ 1 igual a um peso) ou gerar um retrocesso nas reformas iniciadas. "A visão predominante é a de que Cavallo tornou-se o técnico adequado para enfrentar o prolongado processo recessivo, o esperado aumento do desemprego e os conflitos nas Províncias", analisa. Por mais alinhado que fosse com suas idéias, seu substituto não conseguiria recuperar os investimentos no país. O temor que surge entre investidores e banqueiros estrangeiros, diz Frenkel, se relaciona com a possibilidade de aumento ainda maior do risco da Argentina. O apoio destes setores a Cavallo surgiu em tom claro e direto para Menem, no início da semana, em Nova York. Banqueiros, consultores financeiros e empresários estranharam a ausência de Cavallo na comitiva do presidente argentino. Também notaram que Menem preferia a companhia de Emílio Cardenas, o embaixador argentino na ONU, atualmente cotado para assumir o posto de Cavallo. O discurso de Menem, no qual se colocou como a garantia da política econômica, também não agradou. A platéia exigiu, então, duas explícitas ratificações a seu ministro. E Menem as fez. Na segunda-feira, a Bolsa de Comércio de Buenos Aires repercutiu em sua jornada o nervosismo de Nova York. O Merval (taxa que mede a variação diária dos negócios) caiu 4,70%. Embora na sexta-feira os negócios tenham fechado com um resultado positivo, de 3,3%, a tendência global é de queda e os operadores não esperam reversão do quadro para a próxima semana. O volume diário das Bolsas gira em torno dos US$ 8 milhões -uma cifra ínfima, comparada com os US$ 150 milhões ao dia movimentados em 1992. Texto Anterior: México corre risco de nova crise econômica Próximo Texto: ISO muda para se adaptar a microempresas Índice |
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