São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Globalização e Itamaraty

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Muito se fala da globalização neste final de século. Virou palavra da moda, embora muitos nem saibam o que significa.
Claramente, o processo em curso trará consequências para o Brasil. Talvez sejamos beneficiados. Mas o que se sabe sobre os fatores propulsores ou retardadores? Muito pouco.
O professor Luciano Martins tinha planos ambiciosos de estudar os desdobramentos próximos da globalização. Pelo visto, não conseguiu os financiamentos que estava pleiteando. Pior para nós, acadêmicos, que poderíamos alertar a nação para alguns aspectos indesejados.
Como a globalização é tema que causa preocupação, sou frequentemente chamado a proferir conferências pelo Brasil afora para caracterizar minimamente o que deve vir à frente.
Dado o interesse no tema, vamos organizar uma conferência no campus da USP, em 1996, para discutir o processo. O governo pode se dar ao luxo de brincar de cego, mas nós devemos acompanhar o que se passa pelo mundo.
E o Itamaraty, o que sabe? Aqui, à distância, a impressão é que o Itamaraty, mais uma vez, pretende brincar de avestruz e enfiar sua cabecinha no primeiro buraco que aparecer. Afinal, pensar dá trabalho...
Faço votos que o Itamaraty esteja recolhendo subsídios para entender a globalização. Menos atenção às peças de sucesso na Broadway e mais coleta de informação. Não é pedir muito.
Das poucas coisas consensuais sobre a globalização, concorda-se que deve provocar maior homogeneização cultural. As culturas regionais que ainda sobrevivem não passam esta virada de século como entes vivos. São vistas como testemunhas do passado.
Do lado positivo, aguarda-se uma enorme expansão do acesso à informação; a rede Internet é um exemplo.
A possibilidade de acessar diretamente os satélites no espaço tornará quase impossível impor censura direta ou indiretamente, pois nenhum país é capaz de bloquear todos os satélites simultaneamente.
O admirável mundo novo do qual falava Huxley está cada vez mais próximo. Creio que o Brasil será um ganhador líquido nesse novo mundo. Mas precisamos estar preparados.

ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.

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