São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Vulcões podem ter causado extinção

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao longo dos muitos milhões de anos de sua história, a Terra tem sofrido inúmeras catástrofes locais e globais, várias das quais com extinção da vida, depois que esta surgiu. A mais conhecida e falada dessas extinções tem sido a que ocorreu há uns 65 milhões de anos, no período Cretáceo, que causou o desaparecimento da maioria dos dinossauros.
Essa não foi, todavia, a maior. Cento e oitenta e cinco milhões de anos antes, no Permiano, sobreveio uma que atingiu 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres, destruindo, entre outros seres, os recifes de coral e seus habitantes, os trilobitas, invertebrados de dura carapaça e olhos desenvolvidos, extensas florestas de árvores gigantescas correspondentes ao que hoje chamamos de fetos arborescentes, répteis, anfíbios, para dar apenas uma pequena amostra.
A origem desse cataclismo tem sido atribuída a muitas causas, especialmente ao resfriamento e aquecimento globais, à elevação e baixa do nível dos oceanos, a nuvens de vários gases, a chuvas ácidas, a irrupções do magma em gigantescas colunas (plumas) etc.
Estudando os restos de vulcões em atividade na Sibéria há 250 milhões de anos durante um milhão de anos, Paul Renne, diretor do Centro de Geocronologia de Berkeley, construiu com colaboradores chineses um modelo catastrófico que publicou na revista "Science" em setembro passado.
Segundo Renne, uma extensa região de quase 3 milhões de quilômetros quadrados acha-se coberta de lava lançada por aqueles vulcões. Essa lava, hoje basalto vitrificado, forma um tipo característico de terreno, o "trap", que se dispõe como sucessivas plataformas em escadaria.
No sul do Brasil, podem se observar efusões basálticas desse tipo. Além dos "traps", a região siberiana apresenta ainda outra formação geológica característica -os tufos ("tuff) ou rochas piroclásticas, indicativas de grandes explosões vulcânicas.
Associando esses elementos à data das erupções vulcânicas, Renne estabeleceu relação entre os dois fenômenos, atribuindo a catástrofe ao vulcanismo siberiano.
Os vulcões teriam lançado, por meio de violentas explosões, dióxido de enxofre e outros gases nas altas camadas atmosféricas, formando nuvens que teriam obscurecido o sol e precipitado era muito longa de intenso frio e escuridão, retendo água nas geleiras polares e, consequentemente, fazendo baixar o nível oceânico -e uma baixa de 90 metros ocorreu de fato no Permiano.
Esse conjunto de circunstâncias poderia ter deflagrado o processo de desaparecimento das espécies.
Nem todos os especialistas adotam o modelo de Renne, alegando que são muitas as causas que poderiam desencadear os alegados fenômenos e que também seriam capazes de provocar as alterações referidas pelo geólogo Renne que, segundo lembra Madeleine Nash na revista "Time" (18 de setembro de 95), concordou em princípio com as observações apresentadas em encontro promovido pelo Instituto Smithsnonian.
Ele acrescentou que o grande mistério consiste no rebote persistente e resiliente da vida após tamanhos impactos. Algo que faz pensar em Gaia e Lovelock.

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