São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995 |
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O FUTURO DO PASSADO
MARIO CESAR CARVALHO
Em 1853, quando o barão Haussmann assumiu a Prefeitura de Paris e anunciou que derrubaria construções medievais para abrir grandes bulevares, os artistas de rua começaram a criar gravuras da cidade em ruínas, antecipando as obras que viriam. Em São Paulo, quando o prefeito Paulo Maluf, essa caricatura de Hussmann, desloca o eixo da cidade para a nova avenida Faria Lima, é desnecessário desenhar ruínas. Elas já existem. É só seguir os trilhos de trem. É num desses trechos arruinados, os 5 km entre a Estação da Luz e a Água Branca, que o projeto Arte/Cidade vai instalar a sua terceira e mais ambiciosa versão. Serão dois rounds. No próximo dia 6 começa um seminário com 24 conferencistas para discutir da poética à prática do trem (leia a programação à página 5-5). Em abril, 36 artistas, entre os quais Tunga, Vergara, Dudi Maia Rosa, Rosângela Rennó e o grupo musical Uakti, ocupam ruínas como as das Indústrias Matarazzo e de um moinho, ambos à beira de trilhos, num projeto de R$ 1,2 milhão. Será a maior intervenção artística sobre São Paulo, mas Nelson Brissac Peixoto, coordenador do Arte/Cidade, diz que as preocupações não serão “esteticistas”. A idéia é pensar o trem e o futuro das megacidades por meio da arte e da tecnologia. No seminário, por exemplo, poderá se ver Plínio Assmann, secretário estadual dos Transportes, debatendo com o escritor e poeta Décio Pignatari e a arquiteta Regina Meyer. Vão debater sobre ruínas e paradoxos. O trem circulou pela primeira vez em São Paulo em 1865, instaurou a modernidade na cidade e virou sucata. É símbolo de uma era morta, a da Revolução Industrial, numa economia pós-industrial. É por isso que tornou-se anacrônico dizer que “São Paulo é a locomotiva da federação”. O filósofo alemão Jurgen Habermas escreveu que o trilho é o último vestígio de continuidade em cidade esgarçadas. A questão, segundo Peixoto, é o que fazer com os escombros de trem enquanto a cidade não se esgarça de vez, se é que isso vai ocorrer. No mínimo, porque 1 milhão de pessoas andam todo dia de trem na Grande São Paulo. Texto Anterior: Aparecida é preta, não negra Próximo Texto: O FUTURO DO PASSADO Índice |
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