São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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a nova queridinha da América

ANA MARIA BAHIANA

Primeiro houve o caso do rapaz de Nova Orleans -casado, pai de dois filhos- que ofereceu a Sandra, via America OnLine, dois ingressos para o Super Bowl, a disputada partida final do campeonato nacional de futebol americano.
Dias depois, os nomes do rapaz e da atriz estavam em todos os jornais tablóides de fofocas como "o casal do momento".
Sandra Bullock estranhou: "Coitado do rapaz, teve que sair por aí desmentindo tudo, eu me senti superculpada, mas na verdade ninguém tinha culpa na situação. Nós não estávamos namorando. Agora, o que me deixou assustada foi o fato de, aparentemente, todo mundo saber quem eu e ele éramos, e que estávamos conversando por intermédio da America OnLine. Teoricamente, essas informações são confidenciais".
Pouco depois, veio o golpe fatal: Sandra estava alegremente papeando no cyber-espaço, crente que seu pseudônimo on-line, "Bob", a abrigava das indiscrições do mundo cruel, quando uma mensagem pipocou em sua tela: "Alô, onde está, Sandra Bullock?" Sandra não se deu por achada: "Não sei do que você está falando, aqui quem está é o Bob". Houve uma pausa e outra mensagem apareceu na tela: "Ah, é? Então, como é que você está usando o pseudônimo da conta da Sandra Bullock?"

Puro pânico
"Aí eu me apavorei mesmo", diz Sandra. "Essa pessoa não apenas sabia meu nome on-line, mas sabia que aquela era a minha conta. O que quer dizer que essa pessoa tinha acesso a todas as minhas informações - endereço, telefone, cartão de crédito. Aquele foi um momento de puro pânico."
Sandra cancelou sua conta na America OnLine, da qual era uma das usuárias mais antigas e constantes. "Foi como um divórcio. Eles não acreditavam que eu queria mesmo me desligar", diz, mas confessa já estar arrependida. "Vou voltar", ela diz, entre um suspiro e um gole de Coca-Cola ("de verdade, não é diet, adoro açúcar"). "Não sei mais viver sem esse tipo de diálogo, de interação com o mundo. Tomarei mais cuidado, mas vou voltar", promete.
Existe uma dupla ironia nesse caso de amor entre Sandra Bullock e os computadores. Uma, óbvia, é que computadores -e as violações da privacidade possíveis e implícitas no uso deles- são o tema de "A Rede", seu recente sucesso.
Ela faz, justamente, o papel de uma técnica em informática que se vê enredada numa diabólica conspiração cibernética. A personagem tem toda a sua vida pirateada por uma quadrilha de malfeitores high-tech. "É inteiramente plausível e possível", diz Sandra, séria. "Tudo o que mostramos no filme pode acontecer, se é que já não está acontecendo, na vida real".
A outra ironia é esse amor de Sandra Bullock pelo diálogo frio e impessoal via computador.
Logo ela, cuja imagem na tela é de uma mulher ao mesmo tempo decidida e doce, uma combinação irresistível que foi notada por platéias e capitães da indústria desde que ela apareceu como a parceira de Sylvester Stallone em "O Demolidor", e que assumiu proporções de unanimidade global no ano passado como a musa de Keanu Reeves em "Velocidade Máxima".

Sem julgamento
O que é que uma moça fascinante como Sandra pode estar fazendo num lugar -o cyber-espaço- como esse? "É uma experiência extraordinária", ela diz. "Por um lado, leva ao isolamento, mas por outro também faz as pessoas muito mais vulneráveis, de um modo estranho. Creio que as pessoas -eu inclusive- se sentem à vontade dialogando por computadores porque não existe um julgamento de valor no processo todo. Essa é a grande atração do cyber-espaço. A sociedade nos julga constantemente, até quando está sendo liberal e progressista."

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