São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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'Policial é uma grande diversão'

SILVIO DE ABREU
ESPECIAL PARA A FOLHA

O policial é uma grande diversão. O que importa é a maneira de contar a história. Se contasse de modo linear, teria que mergulhar na psicologia de personagens “noir”, como fizeram os autores Dashiell Hammet e Raymond Chandler. E nem sei se tenho talento para isso.
Esse jogo de quem matou, que os ingleses chamam de “whodonit?”, tem muito mais de Agatha Christie. Em cima desse gênero, cuidei para contar a história de maneira intrigante, sem esconder detalhes. Todos souberam que houve um crime, há mais de 25 anos. Todas as pistas para as soluções dos crimes estão ligadas a algo que já aconteceu.
O que diferencia a novela policial das demais é que ela tem de ser assistida com atenção.Não dá para fritar um ovo enquanto uma cena está no ar. Tem de prestar atenção. Curiosamente, percebi que, apesar de algumas pessoas assistirem desse modo, seus raciocínios ainda estão acostumados aos chavões de um folhetim.
O público que sempre acompanha as novelas com essas características não deve ter percebido, apesar de já ter sido divulgado, que “A Próxima Vítima” é, na verdade, uma novela dentro de outra. O público seguiu diariamente duas novelas, uma com personagens que matam, sem que exatamente se saiba quem nem por quê.
A novela policial esbarra, no entando, no folhetim, e, quando isso acontece, alguém que mata modifica esta trama. Acredito que lançamos um desafio na mesma dimensão de quando fizemos “Guerra dos Sexos”. Tivemos o mesmo problema -de ser uma nova linguagem de televisão.
A novela das sete, até então, não era arrebatadora nem despudorada. Isso deu muitos frutos, inclusive o “TV Pirata”. Foi a partir dali que o diretor Guel Arraes, que esteve conosco nesta empreitada, levou elementos das novelas das sete para o programa.
Os atores Cristina Pereira, Claudia Raia, Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Louise Cardoso, entre outros, eram usados como participações especiais, até que uma novela deu a eles oportunidade de mostrar realmente os seus talentos.
Jorge Fernando e eu, com “Guerra dos Sexos”, contribuímos para que as demais novelas fossem melhores. No desafio de “A Próxima Vítima”, os profissionais que vieram depois de nós serão obrigados também a se reciclar.
Assim, talvez, as próximas novelas fiquem menos previsíveis. A novela cansa à medida que sempre se repete. Tentamos sempre tirar o marasmo, fazer com que a coisa fique quente para o público. Eu, que já não sou lá muito modesto, estou satisfeito....

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