São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995
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'Underground' resgata nostalgia

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Underground", vencedor da Palma de Ouro em Cannes-95 e destaque da mostra hoje às 22h no Cine Arouche, é o filme-síntese da breve e triunfante carreira de Emir Kusturica, 41.
Tem o antibelicismo de seu curta de estréia, "Guernica" (1978). Resgata a nostalgia da inocência de seu primeiro longa, "Você Se Lembra de Dolly Bell?" (1981), Leão de Ouro em Veneza. Potencializa a amarga ironia política de "Papai Saiu em Viagem de Negócios (1985), também Palma de Ouro em Cannes. Por fim, combina o barroquismo de "Tempo de Ciganos" (1989) ao onirismo de "Arizona Dream" (1993).
Kusturica jamais havia sido tão pretencioso. Apostou e venceu. "Underground" é uma longa e poderosa alegoria histórica dos últimos 50 anos nos balcãs.
Tudo começa com o bombardeio de Belgrado pelos alemães em 1941 visto por meio de um zoológico. Quase três horas depois, no epílogo, a frase retorna. Encena-se a presente guerra civil na ex-Iugoslávia. "Underground" é a crônica de meio-século de violência: a primeira e a terceira parte entitulam-se "Guerra", e a segunda, "Guerra Fria".
Um triângulo amoroso conduz a trama. Dois amigos, Marko (Miki Manojlovic, de "Papai Saiu...") e Blacky (Lazar Ristovski) disputam a bela Natalija (Mirjana Jokovic). Marko dá um golpe, tranca Blacky e família num porão com a desculpa de preparar armas para a resistência antinazi, enriquece e conquista Natalija. A mentira vai se manter por 20 anos.
O tempo passa, Tito morre, o bloco soviético se desagrega. Kusturica enche de som e fúria essa saga tragicômica. Uma pátria única e alegre é sua utopia. "Underground chora sua inviabilização.

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