São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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NA PONTA DO LÁPIS

MARCELO LEITE

Nem sempre o problema dos números em jornais é de precisão. Muitas vezes, como no caso da manchete da Folha da última quarta-feira ("Dobra entrada de dólar no país), é de contextualização.
Qualquer leigo fará uma primeira leitura otimista desse enunciado. Se investidores estrangeiros vêm aplicar seu dinheiro por aqui, é porque a economia brasileira vai bem. Afinal, o terremoto mexicano foi provocado pela saída abrupta de capitais estrangeiros.
Não é bem assim, ou só assim. Como tudo, a entrada de US$ 2,95 bilhões no mês de outubro tem também seu lado negativo. No caso, o governo emite títulos para evitar uma derrama correspondente de reais, e, com isso, sobe mais um pouco a espiral da dívida pública interna.
Isso para não falar de que o grande atrativo para o capital estrangeiro especulativo são os juros estratosféricos, talvez o ponto mais criticado da política econômica de FHC.
A questão dos juros, a bem da verdade, foi mencionada no texto que acompanhava a manchete. Mas não a da dívida interna, que ficou para o primeiro editorial do dia seguinte, "Reservas, com reservas.
O problema é que leitores comuns não lêem editoriais e ainda têm dificuldade para entender esse infernal sistema de vasos comunicantes em que se transformaram as economias nacionais. Enquanto explicações ultradidáticas não baixarem ao chão do noticiário, a massa dos contribuintes permanecerá ignorante.

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