São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Empresas de turismo fraudam licitações

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As principais empresas de turismo de Brasília constituíram uma entidade para fraudar licitações públicas. Chama-se CNT (Clube de Negócios de Turismo de Brasília). Funciona na clandestinidade desde julho de 95.
O clube, hoje com 32 filiados, monitora todas as compras do governo. Mediante sorteio, seleciona previamente as empresas que irão vencer as licitações públicas para compra de passagens aéreas.
Documentos obtidos pela Folha demonstram que o mecanismo do sorteio prévio transformou as licitações em uma farsa. Formou-se na capital da República um cartel de empresas de turismo.
Antes da formação do clube, o governo obtinha descontos de até 9% sobre o valor das passagens aéreas. Agora, os descontos não chegam a 1%.
Desde o início da gestão Fernando Henrique, empresas e órgãos públicos federais gastaram com passagens e hospedagem cerca de R$ 300 milhões. Estima-se que metade desse valor corresponda a negócios selados em Brasília.
As reuniões para o sorteio prévio dos vencedores das licitações acontecem na sala 3.105 do edifício Brasília Rádio Center, a menos de 1.000 metros da Esplanada dos Ministérios.
Não há letreiro na porta. A sala abriga o escritório do advogado Maurício Augusto, diretor-executivo do clube. É ele quem organiza as reuniões. Embora não exista legalmente, o CNT tem diretoria.
O presidente é Luiz Gustavo de Andrades, dono da Buriti Turismo, segunda maior agência de Brasília. Seu sócio na empresa é o ex-presidente da Embratur Ronaldo Monte Rosas, representante da Associação Brasileira de Agentes de Viagem, no Distrito Federal.
O esquema montado pelo CNT é acionado sempre que um órgão público abre licitação para aquisição de passagens. O primeiro passo é a convocação de reunião para definir previamente o vencedor.
A empresa contemplada vai para o final da fila. Só ganhará outro contrato com o governo depois que as demais forem sorteadas. O vencedor da licitação se obriga a repassar ao clube comissão de 5% sobre o valor do contrato.
Esse dinheiro é repartido entre os demais sócios. Os integrantes do CNT são obrigados também a pagar uma taxa de manutenção da entidade. Divididas em seis faixas, as firmas contribuem segundo o volume de seu faturamento.
As maiores pagam mensalmente R$ 4.000. As menores contribuem com R$ 600. As intermediárias repassam R$ 1.200, R$ 1.800, R$ 2.500 e R$ 3.000 cada uma.
As comissões e a taxa de manutenção são depositadas na conta 118192-3 da agência 524 do Unibanco. Está no nome de dois empresários, Neljandir da Silva Guimarães, da agência Itiquira, e Norma Santinoni Vera, da Firenze.
Os 32 sócios do CNT representam a nata do mercado. Há cerca de 204 empresas do ramo na capital. Mas, desse total, cerca de 40 reúnem condições de concorrer em licitações públicas.

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