São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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EUA temem atraso no processo de paz

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Apesar do compromisso renovado dos mais importantes líderes do mundo com o processo de paz entre Israel e palestinos, ele pode sofrer atrasos devido às dificuldades que Shimon Peres terá para executar seu cronograma.
Essa é a impressão generalizada no Departamento de Estado entre diplomatas que acompanham as conversações entre Israel e a OLP (Organização para a Libertação da Palestina).
Os problemas de Peres virão de Israel. Embora até pelo menos novembro do ano que vem ele deva ficar no poder pela absoluta ausência de rivais, Peres não tem as mesmas condições políticas de Rabin para executar a paz.
Em maio, começam as discussões formais entre Israel e OLP sobre os pontos do processo mais sensíveis para os israelenses: o status de Jerusalém, a situação dos colonos judeus na Cisjordânia e o direito de retorno à região dos palestinos em países vizinhos.
A questão com Peres é que ele sempre foi encarado pela opinião pública israelense como um pacifista inveterado, enquanto Rabin - apesar de ter feito a paz com os palestinos - era visto como um líder sempre preocupado, acima de tudo, com a segurança do Estado de Israel.
Peres não foi apenas o maior adversário da vida política de Rabin. Ele é também quase o antônimo exato de seu predecessor.
Rabin era o protótipo do "sabra", o judeu nascido na Palestina: forte, pragmático, sincero até as raias da indelicadeza com os outros, informal, pouco disposto a demonstrar emoções ou perder tempo com elas.
Peres é um emigrante da Europa oriental, refinado do ponto de vista cultural, que tem o gosto de lidar com metáforas e grandes ideais.
Ele nasceu em 16 de agosto de 1923 em Vishneva, na época Polônia, agora Bielorússia, e emigrou com a família para a Palestina em 1934.
Aos 20 anos, estudante de agronomia, tornou-se secretário da Juventude Trabalhista e estabeleceu relações com David Ben-Gurion, o pai da pátria israelense e seu padrinho político.
A carreira de Peres foi feita à sombra de Ben-Gurion. Depois de ter estudado na renomada Universidade de Harvard, nos EUA, entre 1949 e 1952, retornou a Israel e ocupou diversos ministérios.
No primeiro governo de Rabin, entre 1974 e 1977, foi ministro da Defesa. As constantes divergências entre os dois enfraqueceram o Partido Trabalhista. Peres substituiu Rabin na liderança do partido.
Entre 1984 e 1986, foi primeiro-ministro, num governo de coalizão nacional, em que os líderes dos dois principais partidos do país, o Trabalhista e o conservador Likud, se revezavam no cargo.
No seu governo, Peres tentou sem sucesso iniciar negociações de paz com a Jordânia e os palestinos e começou a retirada israelense do Líbano.
Depois de 15 anos à frente do Partido Trabalhista, Peres foi substituído por Rabin em 1992. Os trabalhistas ganharam as eleições daquele ano e Rabin convidou Peres para ser seu ministro das Relações Exteriores.
Nesse cargo, Peres participou das negociações secretas com os palestinos em Oslo que resultaram na declaração de princípios assinada por Rabin e Arafat em Washington em setembro de 1993.
Ao contrário de Rabin, que aderiu ao projeto de paz por razões apenas pragmáticas, Peres o concebeu por motivos teóricos.
Para ele,"qualidade não pode ser obtida por meio de conquistas militares ...É uma questão de realização criativa. Os conflitos do futuro vão ser decididos em laboratórios de pesquisa, não em campos de batalhas".

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