São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Rua Bela

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - A rua Bela, em São Cristovão, já deve ter merecido o nome. Talvez nos tempos em que era chique morar perto da Quinta da Boa Vista, jardins que abrigam a antiga residência imperial.
Hoje, andar pela rua Bela é conhecer as sombras opressivas do viaduto da Linha Vermelha. A via expressa passa a poucos centímetros das janelas de prédios e sobrados que um dia já tiveram sol e circulação de ar.
O caráter agressivo da obra não foi suficiente para fazer seus executores buscarem uma outra solução. Em benefício da população motorizada, os moradores da rua foram condenados a viver em uma semi-escuridão, brindados pelo barulho de milhares de veículos.
Agora, a prefeitura estuda mais um desses projetos que prometem a felicidade do fim dos congestionamentos. A duplicação da avenida Niemeyer desafogaria o trânsito entre a zona sul e a Barra da Tijuca, eis o argumento sedutor.
Ladeando o costão rochoso sobre o mar, uma outra pista pode ser construída. Em dois trechos a nova pista vai se sobrepor à atual, na forma de viaduto. Um deles, com 460 metros de extensão, passará ao lado das construções que ficam na entrada do morro do Vidigal.
A história do Rio é parecida com a das cidades que privilegiam o transporte individual ao coletivo. Essa mentalidade abriu avenidas, derrubando no seu caminho parte do velho conjunto arquitetônico.
A busca de uma melhor fluidez também determinou a remoção dos morros que se transformaram nos aterros que sustentam o aeroporto Santos Dumont e o parque do Flamengo, agredindo a baía da Guanabara.
O artista plástico Luiz Zerbini diz na Folha de hoje que já viu em outras cidades semelhanças com a violência do Rio, mas em nenhuma encontrou beleza igual.
À força de tanto tentar, talvez chegue o dia no qual essa beleza seja tão mascarada pelas obras dos homens que dela só restem imagens em antigos cartões postais.

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