São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Igreja receita urina para tratar câncer e até Aids

SILVANA DE FREITAS

SILVANA DE FREITAS; XICO SÁ
ENVIADA ESPECIAL A PETROLINA (PE)

XICO SÁ
Pastorais da Igreja Católica estão recomendando a ingestão de urina como uma forma de curar e prevenir vários tipos de doenças.
No cardápio de doenças supostamente combatidas pela "urinoterapia" -ou "medicina agradável", como é conhecida entre os religiosos- estão o câncer, a Aids, a impotência sexual, o reumatismo e a obesidade.
A urina vem sendo recomendada até mesmo para quem quer simplesmente preservar a saúde.
Segundo a irmã Terezinha Graciema Tamanho, responsável pela introdução da urinoterapia no Brasil, em 93, atualmente cerca de 20 mil brasileiros são adeptos desse tipo de tratamento em pelo menos dez Estados (São Paulo, Minas, Pernambuco, Piauí, Bahia, Paraíba, Rondônia, Maranhão, Goiás e Rio Grande do Sul).
Os médicos ouvidos pela Folha (leia texto abaixo) consideram o tratamento, no mínimo, inócuo. E advertem: se a pessoa que produziu a urina tiver alguma infecção, a ingestão do líquido pode trazer malefícios à saúde.
A congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição lidera, entre os católicos, a defesa da terapia alternativa, mas a prática é também orientada por padres de todas as tendências.
Freiras, padres e agentes de saúde das pastorais da Igreja estão sendo orientados pelo chinês Atom Inoue, radicado na Nicarágua e precursor dessa "terapia", a difundir o "remédio".
O uso da própria urina, que deve ser bebida de preferência em jejum, está disseminado do sertão nordestino aos grandes centros, como São Paulo.
"Temos vários casos de cura de pessoas que sofriam dos rins", diz a irmã Terezinha, da congregação da Imaculada Conceição. Ela mora em Belo Horizonte, mas percorre o país todo para ajudar a divulgar a urinoterapia.
No final de setembro, ela coordenou um curso com a participação de representantes de dez Estados na cidade de Itajubá (MG).
Antes do uso da urina, as irmãs da Imaculada Conceição já mantinham pastorais dedicadas à área de saúde com especialidade em técnicas alternativas, como a homeopatia e o uso de plantas medicinais.
Rondônia é apontado como o local onde a prática obteve maior sucesso até o momento. A fé e a convicção dos seguidores de lá impressiona as irmãs que realizam os cursos. Em maio, a urinoterapia será um dos temas discutidos em um congresso de Medicina Natural em Cuiabá, no Mato Grosso.
São Paulo
Em São Paulo, a Folha localizou dois pontos onde o tratamento tem sido recomendado: a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Míriam (zona sul) e a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição no Ipiranga (também na zona sul).
O padre Joseph Dillon, 52, da paróquia, é irlandês e está há 20 anos no Brasil, onde se apaixonou pelas terapias alternativas. Sua igreja é procurada há muito tempo por uma romaria de pessoas que buscam seus remédios feitos à base de plantas.
Recentemente, o padre fez um curso sobre a terapia da urina e passou a recomendá-la na sua pastoral. "A urina é a água da vida", define Dillon, repetindo o slogan que ouviu no curso.
O padre reconhece que é trabalhoso convencer os fiéis: "No primeiro momento, temos de fazer com que o usuário esqueça o nojo e sinta a riqueza daquilo que é produzido por seu próprio corpo".

Texto Anterior: Seminário discute controle sobre morfina
Próximo Texto: 'Terapia beira curandeirismo', diz médico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.