São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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'Terapia beira curandeirismo', diz médico

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Perplexidade é a melhor palavra para expressar a reação de médicos ouvidos pela Folha sobre a urinoterapia.
Os médicos consideram contraditório defender a ingestão de urina -uma substância por meio da qual o organismo justamente elimina toxinas.
"É paradoxal voltar a tomar o que o organismo rejeita", afirma o infectologista Ricardo Tapajós. Em sua opinião, a urinoterapia é uma heresia médica que beira o curandeirismo.
O urologista Miguel Srougi diz que a urina possui substâncias boas, como o interferon e a prostaglandina, mas em quantidades pequenas. A presença de substâncias tóxicas é proporcionalmente muito maior, diz.
Décio Mion, nefrologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, considera a prática "estranha", mas afirma que ela não é uma ameaça ao organismo. "A urina é uma substância neutra, que só estará contaminada se a pessoa tiver uma infecção."
Como seus colegas, Mion aponta o paradoxo da terapia: "É como se nós respirássemos de novo o gás carbônico eliminado por nosso organismo".
Os médicos ouvidos pela Folha não conhecem estudos científicos sobre as propriedades terapêuticas da urina.
"Nunca ouvi falar de qualquer estudo científico sobre o assunto", afirma o chefe do departamento de hemodiálise do Hospital Oswaldo Cruz em São Paulo, Flávio de Paulo.
Tapajós vê outro problema na urinoterapia: não há estudos que apontem os efeitos da ingestão da substância em grandes quantidades. Os efeitos de uma overdose seriam, portanto, desconhecidos. "Acredito que ninguém deva ter se submetido a essa experiência", afirma.

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