São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Ventos fortes

Muito já se disse de como a globalização e a integração dos mercados podem transmitir progresso e também alastrar crises mais rapidamente. Mas se tal fato parece quase indiscutível, é igualmente verdade que nações cujos fundamentos econômicos são promissores podem aproveitar dos benefícios expondo-se menos às incertezas.
Nos últimos dois dias o México passou por uma forte instabilidade cambial e já há algumas semanas cresceram as especulações sobre a saída do ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo.
O Brasil, porém, tem-se mostrado razoavelmente imune à incerteza cambial, ainda que as Bolsas tenham sofrido algum impacto. A reversão dos déficits comerciais e o alto nível das reservas internacionais do país estão servindo como fatores de isolamento. Mas ainda são precários. É preciso acelerar a reforma do Estado, de modo a alcançar um equilíbrio menos dependente de juros estratosféricos e desaceleração do crescimento.
O México, apesar da profundidade do ajuste fiscal, do amplo programa de privatizações e da desregulamentação da economia, descuidou gravemente de sua balança comercial. Por três anos registraram-se déficits de 6% a 9% do PIB no balanço de pagamentos em conta corrente, financiados pela atração de capitais de curto prazo. A demora em corrigir tal situação custou-lhe uma desvalorização que já chega a 115%, a volta da inflação e uma queda da atividade econômica que pode chegar a 10% este ano.
Nos mercados desregulamentados sopram ventos fortes. O Brasil não pode seguir adiando reformas que assentem em bases mais sólidas nossa incipiente estabilização.

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