São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

No Paraná, movimento dos sem-terra é mais radical

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTA ISABEL DO IVAÍ

Divididos apenas pelo rio Paranapanema, os sem-terra do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) do Pontal do Tigre (extremo noroeste do PR) e Pontal do Paranapanema (oeste de SP) possuem métodos distintos na luta pela reforma agrária.
No Pontal do Paranapanema, os sem-terra liderados pelo carismático José Rainha Jr., hoje foragido da Justiça, utilizam a tática do "desgaste", invadindo e desocupando fazendas. Assim, evitam operações de despejo e a possibilidade de confrontos armados.
Segundo Claudemir Marques Cano, uma das lideranças no Pontal do Paranapanema, a tática na região é "vencer pelo cansaço".
O caso da fazenda São Bento (em Mirante do Paranapanema) é exemplar de como os sem-terra paulistas atuam. A fazenda foi invadida 23 vezes desde 91 até ser desapropriada e se transformar em uma espécie de central do MST na região.
No caso paranaense, os sem-terra optam por resistir aos mandados de reintegração de posse.
A fazenda Pontal do Tigre (10.400 hectares) foi invadida em julho de 88 por cerca de 300 famílias de sem-terra. Os sem-terra resistiram até outubro, quando a PM foi acionada para despejá-los.
Só não houve um confronto armado entre PMs e sem-terra porque no último momento o governo do Estado desmobilizou 300 policiais militares que estavam prontos para cumprir ordem judicial.
Os sem-terra receberam em outubro deste ano o título de emissão de posse das mãos do presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano.
Segundo Ireno dos Santos Alves, da coordenação nacional do MST e uma das principais lideranças do Paraná, a diferença entre os "dois pontais" se define nos slogans. "Em São Paulo é ocupar, resistir e produzir. No Paraná é ocupar, resistir em cima da terra e produzir", afirmou Alves.
O perfil social dos agrupamentos dos dois Estados, segundo o paranaense, também contribui para esse tipo de posicionamento.
Enquanto os sem-terra paulistas são formados basicamente por ex-bóias-frias (trabalhadores temporários que moram na periferia das cidades), o movimento de sem-terra do Paraná surgiu com a adesão de pequenos proprietários rurais.
O MST no Paraná foi criado a partir de experiências pioneiras do vizinho Rio Grande do Sul e teve como primeiro núcleo o que na época se chamava Mastro (Movimento dos Trabalhadores Rurais do Oeste do Paraná).

Texto Anterior: Incra quer emancipar 150 assentamentos
Próximo Texto: Ex-pastor conta sua vida do púlpito ao lixo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.