São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Metade da população norte-americana rejeita idéia de ter computador em casa

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Eles não fazem muito barulho com medo de serem acusados de viver na Idade da Pedra. Mas formam uma multidão silenciosa que tem conquistado cada vez mais espaço na mídia dos Estados Unidos.
São os "Americans Unplugged" (americanos desplugados), ou neoluditas, conhecidos pela aversão que têm às novas tecnologias.
A fonte maior de tanta fobia são os computadores, que há tempos deixaram os escritórios fechados e hoje invadem as casas. Deixaram o ambiente de trabalho e chegaram ao lazer nos finais de semana.
Reação violenta
O terrorista Unabomber -que desde 1978 explodiu 16 bombas que mataram três pessoas e feriram outras 23- é o mais famoso dos avessos aos computadores.
Em 19 de setembro passado, as idéias do terrorista ganharam projeção nacional com a publicação na íntegra de seu manifesto contra a "tirania da sociedade tecno-industrial" pelo jornal "The Washington Post".
A procura pelos exemplares do "Post" surpreendeu todo mundo e, em menos de seis horas, não havia uma cópia sequer do jornal nas bancas.
No texto (que ocupou sete páginas inteiras do "Post"), o Unabomber propunha que todos os computadores fossem destruídos e que as pessoas voltassem a viver em pequenas comunidades.
Só assim, segundo ele, o homem teria como se livrar do processo de escravização lenta e gradual imposto pelo governo e por grandes corporações da "sociedade tecno-industrial".
Apesar de ter sido criticado por tentar impor suas idéias através do terror, o Unabomber não está sozinho em seu ódio às máquinas.
Pesquisa
Numa pesquisa realizada em fevereiro de 1995, a revista norte-americana "Newsweek" chegou a um resultado que deixou os próprios organizadores surpresos: 55% da população adulta dos Estados Unidos têm medo ou resiste à entrada de computadores em suas vidas.
Isso significa num batalhão de aproximadamente 130 milhões de pessoas que resistem (por medo ou convicção) à tão declamada revolução tecnológica.
"Tem gente que quer mostrar que nós somos homens pré-históricos, ultrapassados, e que a entrada do computador na vida das pessoas é um processo irreversível. Mas apenas um quarto dos lares dos Estados Unidos tem computador. Isso significa que nós ainda somos maioria", afirmou o jornalista Kirkpatrick Sale, 58, considerado um dos mais importantes intelectuais do neoludismo nos Estados Unidos.
O educador Neil Postman, diretor da Faculdade de Comunicação da New York University, também acredita que o número de pessoas que têm contato diário com a tecnologia avançada ainda é muito pequeno.
"O problema é que está crescendo rápido demais. A única esperança é o fortalecimento dos núcleos de resistência. Sejam eles nas universidades, na mídia ou em grupos comunitários", disse Postman.

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