São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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NA PONTA DA LÍNGUA

MARCELO LEITE

Não contente em torpedear a língua portuguesa, algo que a Direção de Redação vem tentando com sucesso impedir, jornalistas da Folha parecem determinados também a ampliar sua área de tiro para as línguas estrangeiras. Como não poderia deixar de ser, a nave alienígena em sua alça de mira é a língua de Shakespeare.
Curiosamente, alguns erros recentes da Folha permitem supor que a dificuldade maior está nas consoantes dobradas. Dois deles foram apontados nas críticas internas da edição redigidas diariamente pelo ombudsman: "nigger", que saiu com apenas um "g", e "sparring", rebaixado a um único "r" pela Primeira Página.
No primeiro caso, veio um comunicado lacônico da Secretaria de Redação: "Não vamos dar erramos". Não é exatamente o que chamo de argumento. Pior foi a razão alegada para não corrigir "sparing" (que nem por atuar com Mike Tyson merece tal tratamento): é assim que está no "Aurélio".
Isso mesmo, um dicionário de... português. Aquele preferido da Folha, que só registra "descriminar", quando todo mundo quer dizer "descriminalizar". Sugeri então à Secretaria de Redação que alterasse o título da coluna mantida pelo jornalista Wilson Baldini Jr. no caderno Esporte, já que por esse critério ela contém "erro" de grafia.
Depois disso, encontrei novo tropeço com duplicação de letras, desta vez na capa do caderno Turismo da última quinta-feira. Saiu "sallon" em lugar de "saloon" (além da grife "Hermès" com acento no "e" errado). Erros de digitação, por certo.
Nessa trilha, porém, o jornal vai acabar convencendo alguns leitores de que está inclinado a tolerar uma nova categoria de iletrados -os poliglotas.

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