São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Gênio da informática tenta sair da 'concha'

DA REPORTAGEM LOCAL

"Nunca tive uma vida social normal", confessa o carioca Marcelo Quintellas Lopes, 23, considerado um gênio da informática entre profissionais do setor.
Lopes, que construiu seu primeiro computador antes de atingir a adolescência, afirma que muitas vezes deixou de sair com seus amigos para ler um livro de física quântica.
Ele diz que hoje, graças ao esforço de sua namorada, "começa a sair da concha, mas com alguma dificuldade".
Dono de uma empresa que faz divulgação científica por meio da Internet e outros sistemas eletrônicos, ele admite que pessoas muito inteligentes possam enfrentar dificuldades no dia-a-dia.
Lopes atribui isso a um certo "egoísmo intelectual", que faz com que elas priorizem seus objetivos científicos e releguem todo o resto a um segundo plano.
Há ainda, segundo ele, aqueles que se consideram "donos do conhecimento" e se impõem um isolamento voluntário e ostensivo. Afirma que encontrou várias pessoas com esse perfil durante o curso de física na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
'Vida normal'
O paulistano Giovanni Vescovi, 17, um dos cinco melhores jogadores de xadrez do mundo na categoria até 18 anos, discorda da tese de que, a um alto índice de inteligência, corresponde uma certa dificuldade para lidar com as situações práticas da vida.
Contrariando a imagem tradicional do enxadrista mal-humorado, estranho e recluso, ele combina as horas de treino com a piscina do clube Paulistano, jogos de futebol com os amigos e festas nos fins-de-semana.
"Levo uma vida normal, como a dos meus colegas." Vescovi diz "ter noção" de que é uma pessoa "um pouco mais inteligente" do que a maioria.
Aprendeu a jogar xadrez com 4 anos. Aos 12, obteve 148 pontos num teste de Q.I. (o índice considerado "normal" gira em torno de 100 pontos). No ginásio, pulou a 6ª série por sugestão da escola. No ano que vem, quer prestar vestibular para engenharia. Acha que será um profissional bem-sucedido.
Renato Werneck, primeiro lugar nos vestibulares da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da Unb (Universidade de Brasília, 19, não acha que exista a relação entre um alto nível de inteligência e dificuldades na vida cotidiana.
Convidado pela Folha a fazer o teste de QE, atingiu 80 pontos, abaixo do nível médio. "Não esperava esse resultado, mas pelo menos não sou nenhum nerd", diz o filho da ministra Dorothea Werneck (da Indústria e Comércio).

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