São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Escola dos EUA cria 'educação sentimental'

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de "inteligência emocional" é vista nos EUA como um dos fatores que está gerando na sociedade americana jovens como os retratados pelo filme "Kids".
"Os jovens de hoje precisam adquirir habilidades emocionais e sociais", afirma Mary Schwab-Stone, 46, diretora do Coletivo para o Progresso da Aprendizagem Social e Emocional (Casel, na sigla em inglês).
O coletivo foi formado há um ano e meio no Centro de Estudos da Criança da Universidade Yale -uma das melhores do país.
Segundo a professora de psiquiatria infantil de Yale -que falou à Folha por telefone, a idéia é que o Casel reúna dados sobre experiências em aprendizagem emocional, as divulgue e desenvolva formas de avaliar esse tipo de "inteligência".
"Há muito tempo que as pessoas aprendem na família que não se deve bater em outra pessoa quando ela faz algo que você não gosta. Isso não é novo", diz Schwab-Stone.
"A novidade é a percepção de que a vida está se tornando cada vez mais complexa e que a família pode não estar mais dando conta desse tipo de educação."
"Antigamente as comunidades eram menores e os valores eram mais facilmente estabelecidos: a família, o vizinho, a igreja, todos falavam a mesma coisa. Mas hoje não é mais assim", afirma.
Para Schwab-Stone, "hoje, a escola também deve se encarregar desse tipo de conhecimento, além do papel acadêmico que ela desempenha tradicionalmente".
O grupo do Casel está desenvolvendo um programa experimental em todas as escolas da cidade de New Haven -onde fica a Universidade Yale.
"Fizemos um currículo que vai do maternal ao 2º grau", conta a psiquiatra.
Por esse currículo, as crianças e jovens têm discussões e aulas sobre como resolver problemas pessoais, como enfrentar conflitos, como resistir ao estresse -tudo que se encaixa sob o termo "habilidades sociais e emocionais".
Por exemplo: "As pessoas têm que ter recursos próprios para tomar decisões na hora de ter um envolvimento sexual. A educação nesse sentido daria uma base para o jovem tomar essas decisões de uma forma responsável".
A questão não seria simplesmente treinar mecanicamente o jovem a dizer não ao sexo "inseguro" ou às drogas, mas transmitir a ele esse tipo de "inteligência emocional".
A diretora do Casel diz que "ensinar esse conhecimento emocional é como ensinar história: há muitas formas de fazê-lo".
"Para nós do coletivo, o que é mais necessário atualmente é encontrar formas de avaliar os programas voltados para isso."
As melhores formas de avaliação seriam as que reúnem várias abordagens -desde questionários aos jovens para perceber como eles pensam (se há tendência à violência, por exemplo) até o nível de contaminação daquela população pelo vírus da Aids em um determinado grupo.
As avaliações também podem ver se os programas de aprendizagem emocional e social têm resultado com o desempenho acadêmico dos alunos.

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