São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Dinâmica de grupo ajuda aprendizado

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

"O que vamos fazer hoje?", pergunta a psicóloga e pedagoga Maria Regina Bonilha, 55, aos cinco adolescentes que farão uma sessão de dinâmica de grupo. "Assistir televisão", responde jocosamente Fabio Romero, 17.
Mas a brincadeira do estudante acaba gerando uma discussão de 50 minutos, onde são tratados temas como por que se deixa de estudar para assistir televisão, o que há de bom ou ruim na TV, quanto os meios de comunicação de massa "fazem a cabeça" das pessoas.
Essa dinâmica de grupo é uma das novas atividades desenvolvidas por alunos com alguma dificuldade de aprendizagem no Vésper-Estudo Orientado.
Nos termos do psicólogo norte-americano Daniel Goleman, o que o Vésper está oferecendo poderia ser chamado de "educação emocional" -além da educação dita cognitiva (de conhecimento).
Em suas duas escolas de São Paulo, o Vésper oferece cursos individuais ou para pequenos grupos -de crianças em fase de alfabetização a adultos se preparando para testes.
"Todo o nosso trabalho psicopedagógico é muito voltado para a formação afetivo-emocional", afirma a coordenadora do Vésper, Nívia Gomes Basile, 62.
A sessão de dinâmica de grupo tem assuntos variados. A de sexta-feira passada era com tema livre -daí ter surgido a discussão sobre televisão.
"Mas em geral temos temas bem estruturados", diz a psicopedagoga Bonilha. Os primeiros três temas abordados são a aprendizagem, a casa em que se vive e a escola.
"É importante mostrar, por exemplo, que mesmo para aprender coisas gostosas, como surfar, dá trabalho."
Para a coordenadora do Vésper, "é muito fácil para uma escola perceber objetivos acadêmicos. Mas é muito mais difícil a escola trabalhar o comportamento e os valores".
Segundo Basile, "é por isso que hoje em dia se valoriza cada vez mais as artes, a música e a filosofia no próprio primeiro grau".
Pedagogia Waldorf
Uma das linhas pedagógicas que mais enfatizam o ensino de arte concomitante ao ensino dos conteúdos tradicionais é a chamada pedagogia Waldorf.
Foi criada pelo educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) -portanto, muito antes dos problemas surgidos na sociedade industrial moderna.
Mas hoje, às vezes surge um tipo inverso de problema com esse tipo de ensino: os alunos podem acabar com deficiências do conhecimento tradicionalmente exigido dos estudantes.
"No Vésper, recebemos muitos alunos de escolas de pedagogia Waldorf", conta Basile. "São pessoas que realmente têm uma formação afetiva e emocional muito boa."
Segundo o professor Peter Biekarck, 47, da Escola Rudolf Steiner de São Paulo -uma das mais tradicionais nessa linha de ensino-, o seu trabalho se desenvolve em três níveis.
Além da inteligência cognitiva ou intelectual e da inteligência emocional, também se trabalha o que eles chamam de inteligência física -relativa à habilidade nos movimentos.
Esse tipo de trabalho parte da idéia de que "todo ser humano tem uma estruturação trimembrada" -que pode ser expresso como corpo, alma e espírito, como pensar, sentir e querer, ou como cabeça, membros e tronco.
Assim, todo tipo de conhecimento trabalhado pela escola tenta tocar essas três dimensões.
Crianças que estão aprendendo a contar, por exemplo, usam o corpo para vivenciar a aprendizagem: um garoto deita no chão; um colega faz pontos coloridos no chão em cada extremidade do garoto deitado (cabeça, mãos e pés); depois interligam-se os pontos coloridos com um fio de lã, formando um pentágono.
"Isso mostra ao aluno o número cinco não só como uma quantidade, mas como uma qualidade", diz Biekarck.
(FR)

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