São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Globalização tira o sono de operadores

Aumenta o medo do desemprego

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A globalização da economia está tirando o sono dos operadores das Bolsas brasileiras. Um dos insones é o veterano operador José Luiz do Amaral Sampaio, 46, gerente de pregão da Corretora Isoldi e presidente do Corp (Conselho dos Operadores da Bovespa).
Com 25 anos de muita gritaria nos pregões da Bolsa paulista, Sampaio botou a boca no trombone, semana passada, ao liderar uma greve branca em protesto contra a tributação do investimento estrangeiro em ações.
Seu medo, compartilhado pelos colegas, é perder o ganha-pão para os operadores internacionais, que seriam beneficiados pelo estímulo adicional à negociação de ações brasileiras no exterior.
"É desemprego na certa", reclamou.
A exportação das ações já começou. As ações da Telebrás passaram este mês a ser negociadas também na Bolsa de Nova York, por meio de ADRs (recibos de ações).
Carro-chefe da Bolsa, a Telebrás chegou a ser negociada lá fora, nos primeiros dias do mês, em montante semelhante ao registrado aqui. Com isso, os corretores locais perderam quase metade de suas comissões.
"Há 31 empresas com ADR nível 1 (negociado em balcão) nos EUA. Cerca de 40 outras companhias têm potencial para fazer o mesmo. Não podemos deixar a liquidez de nossas ações ser transferida para fora", observa o presidente da Bovespa, Álvaro Augusto Vidigal.
Fiel ao discurso globalizante, Vidigal não é contra os ADRs. Incentivos ao mercado local, e não ameaças de imposto, resolveriam parte do problema, diz.
A questão crucial para os corretores é como ser competitivo no Brasil e lá fora ao mesmo tempo, retruca o vice-presidente da Bolsa de Nova York, Edmund Lukas, um dos caçadores de empresas abertas brasileiras.
"No fundo, todos saem ganhando com os ADRs, pois os mercados crescem dentro e fora do país de origem."

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