São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nem tudo são rosas

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE

MARCOS CINTRA
O futuro do Plano Real começa a preocupar.
Um dos principais critérios de avaliação da atual política econômica é a evolução da taxa de inflação. Ela mostra um estrondoso sucesso. Contudo, a queda da inflação não é uma meta em si mesma. O que realmente se deseja é retomada do crescimento econômico, geração de empregos e melhoria do bem-estar da população.
O Plano Real conseguiu, até o momento, o acessório (inflação baixa), mas não o essencial (bem-estar econômico e social).
Começam a surgir evidências de que nem mesmo a estabilidade monetária está garantida a médio prazo. A evolução dos fatos e as dificuldades do governo em conduzir seu plano de reformas estruturais deixam uma sensação de incerteza.
Vejamos alguns indícios. A lógica destrutiva da indexação ainda não foi extirpada e pode ser ressuscitada pela ação imprudente do governo. O Tribunal Regional do Trabalho reindexou os salários dos metalúrgicos de São Paulo; e o governo aumenta as tarifas de serviços públicos, inclusive energia elétrica, apelando para cálculos da inflação acumulada, ao invés de custos.
O ajuste fiscal ainda não foi realizado e todos sabemos que, sem ele, a contenção dos índices de inflação só é possível no curto prazo, com medidas contencionistas e com políticas de valorização do real, juntamente com a abertura punitiva dos mercados nacionais.
O déficit operacional do setor público será de 3% ou 4% do PIB, em 1995. Para o ano que vem, as previsões apontam para resultados igualmente decepcionantes. Poderá chegar a 3% do PIB. A continuidade do Fundo Social de Emergência apenas transfere déficit do governo federal para os Estados e municípios. As reformas estruturais estão cada vez mais encalacradas em dificuldades políticas e indefinições técnicas.
A política monetária não está sob controle. Em nove meses, até setembro, a liquidez real da economia cresceu, vistos os indicadores ampliados. O M4 cresceu 32%, mais do dobro da inflação acumulada em 1995.
Pessimismo? Alarmismo? Não. Só alertas que, se levados a sério, podem evitar o pior.

Texto Anterior: Fundos de pensão têm US$ 18 bi em ações
Próximo Texto: A moeda eletrônica vem aí
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.