São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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A moeda eletrônica vem aí

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A moeda única européia, que leva mais 10 ou 20 anos para se materializar, corre o risco de ser superada por uma nova moeda, que podemos chamar aqui de "moeda eletrônica".
Essa nova geração de dinheiro eletrônico, cuja circulação pode crescer à velocidade dos programas de computador, é fácil de entender.
Com o uso de cartões de plástico, o consumidor faria compras em qualquer loja do mundo conectada à rede e teria sua despesa deduzida imediatamente de sua conta corrente.
As transferências de dinheiro ficariam enormemente facilitadas: de qualquer telefone poder-se-ia transferir recursos.
Ademais, com esses débitos imediatos seriam evitados todos os riscos associados à flutuação das taxas de câmbio. Saber a taxa de câmbio do dia já basta, pois a transação se completa no próprio dia.
Com os cartões de crédito, uma loja recebe sua fatura na divisa local, o proprietário do cartão paga na moeda do país onde mora, e a administradora do cartão faz a conversão segundo sua programação.
Com o dinheiro eletrônico, os proprietários de cartão e os lojistas iriam decidir na hora a divisa da transação.
Na Europa alguns analistas sugerem chamá-lo de "e-money", dado seu paralelismo com as contas fictícias no correio "e-mail" da Internet.
Mas nem todos olham para a inovação satisfeitos. Governos e bancos podem perdem se o "e-money se tornar popular. Os governos ficarão impedidos de emitir muito dinheiro; nos bancos, grande parte da intermediação de fundos se fará diretamente entre os agentes.
Assim, nos próximos dez anos teremos muitas novidades na circulação de fundos. O "e-money" vem aí.
PS. Meu amigo Fabio Giambiagi (Folha, 9/11/95), desejando responder às críticas que fiz ao Orçamento Geral da União, fornece mais material para confirmar minhas críticas. Primeiro, defende que o PIB de 1995 deve ser inflado por 70% para poder ser comparado ao de 1994. Isso é errado, pois o PIB de 1994 já veio expresso em reais. Segundo, Fabio defende implicitamente a manutenção do absurdo contábil que é contabilizar os tais dos "juros reais"; mas, com a estabilidade de preços, só faz sentido falar em déficit nominal.

ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.

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