São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Os desafios do BNDES

LUÍS NASSIF

Dois desafios esperam o novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luiz Carlos Mendonça de Barros. O primeiro, o de ajudar o banco a encontrar seu caminho, num cenário de globalização da economia.
O segundo, o de ajudar o Plano Real a formular uma agenda positiva, diluindo o profundo clima pessimista que toma conta do país, após constatados os desastres produzidos pelas políticas monetária e cambial.
Integrante do governo no Plano Cruzado, Mendonça de Barros aprendeu a conhecer as limitações do governo. Não se pode formular agenda ampla, explica ele, por falta de quadros técnicos para implementá-la.
Deve-se definir e se concentrar em alguns pontos essenciais, e não pretender abraçar o mundo com as mãos.
Em sua gestão, o BNDES se concentrará em três programas centrais.
O primeiro, o do financiamento de projetos pesados na área de concessões públicas, a serem assumidas pelo setor privado.
Nessa linha, atuará basicamente no financiamento das hidrelétricas e das rodovias. O banco prepara-se para financiar as concessões das hidrelétricas de Serra da Mesa (GO), ITA (RS) e Igarapava (RS) e as da via Dutra, ponte Rio-Niterói e do complexo Anchieta-Imigrantes -financiando o governo paulista.
Como subproduto desse programa, o BNDES se oferecerá para atuar como consultor e banco de investimento dos governos estaduais e municipais que pretenderem privatizar suas empresas.
Os serviços oferecidos consistirão desde a definição do edital até o financiamento da venda.
No próximo dia 20, o governador gaúcho Antônio Britto anunciará um profundo programa de privatização, contando com a assessoria do BNDES. Deverá ser assinado convênio semelhante com o governo paulista, especialmente para a privatização da Fepasa.
Fundos sociais
A segunda linha de atuação do banco será na reestruturação do setor industrial brasileiro, preparando-o para a abertura da economia.
O banco pretende assessorar e financiar fusões, e também os cursos de reciclagem profissional dos trabalhadores que inevitavelmente sobrarão nesse processo.
A terceira linha será na preparação de um novo modelo de financiamento da economia, por meio dos fundos de investimento. Nos próximos dias, Luiz Carlos deverá se reunir com o ministro do Trabalho, Paulo Paiva, e com o secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, para definir a participação dos fundos sociais na privatização, assim como para acelerar a implementação de medidas que facilitem a ampliação dos fundos de pensão, independentemente da reforma da Previdência Social.
Aí, o banco atuará basicamente por meio do BNDESPAR, uma subsidiária especializada em entrar com participação acionária em empresas privadas nacionais.
Mercado de capitais
A coluna volta a insistir na ausência de qualquer plano do governo destinado a revigorar o mercado de capitais.
A esta altura, já deveria estar pronta a nova versão da Lei das Sociedades Anônimas, com a ampliação dos direitos dos minoritários e o projeto de fortalecimento da Comissão de Valores Mobiliários.
Senão, todo o trabalho anunciado terá a eficácia de um guarda de trânsito que desvia todo o movimento da avenida para uma rua sem saída.

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