São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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EUA querem liberar a telefonia

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O mercado de telefonia nos EUA está às vésperas de sua mais importante mudança desde que a AT&T foi desmembrada em 1984.
No Congresso, tramita projeto de lei com o objetivo de acabar com todas as restrições estatais impostas há 11 anos.
O governo, apesar de contrário ao projeto, na prática libera aos poucos seus controles, para não os perder de uma vez só.
O avanço da tecnologia possibilita a integração de serviços (telefone, televisão, informações), inimaginável há dez anos. Além disso, a dinâmica do mercado torna impraticável manter o status quo por muito mais tempo.
Até 1983, a AT&T, que teve origem no próprio inventor do telefone, Alexander Graham Bell, tinha o virtual monopólio do setor.
O sistema Bell, controlado pela AT&T, foi desmantelado depois de um acordo entre a empresa e o governo, que a processava com base na lei antitruste.
Pelo acordo, a AT&T passou a ter o monopólio das ligações de longa distância e sete empresas regionais ganharam controle dos mercados locais.
O monopólio das "baby bells" nunca foi total. A GTE e outras empresas sempre competiram. Mas as "baby bells" controlam mais de 90% do mercado de US$ 90 bilhões anuais da telefonia regional nos EUA.
Domínio
O domínio da AT&T no mercado de US$ 70 bilhões anuais da telefonia de longa distância começou a ser contestado pela MCI, depois Sprint, e outras. Mas a sua fatia ainda é muito maior do que a das demais (cerca de 60%).
O que está prestes a ocorrer é a liberação dos dois mercados para qualquer um operar neles.
A AT&T, que acaba de se desmembrar de novo -desta vez por iniciativa própria- para se concentrar em telefonia, anunciou no fim de outubro que vai à luta pelos mercados regionais com ou sem lei do Congresso. A empresa, que nas eleições de 1994 deu US$ 1,5 milhão para candidatos ao Congresso, parece ter desistido de esperar pela ação legislativa.
Ela já conseguiu autorização das autoridades do Estado de Connecticut, Costa Leste, e fez acordo com a companhia telefônica local, a Snet, que tem 99% do mercado, para começar a operar no início do ano que vem.
Seu próximo projeto, muito mais ambicioso, é a Califórnia, Costa Oeste, primeiro Estado em população e terceiro em tamanho.
No lado oposto, a US West e a Ameritech já chegaram a acordo com a AT&T e com o governo para oferecer interurbanos.
Mas nenhum dos dois grupos pára aí. Todas as companhias querem aproveitar as possibilidades tecnológicas de integrar serviços.
Por isso, várias companhias telefônicas dos EUA investem pesado em televisão, e se associam com empresas que se dedicam ao conteúdo da comunicação.
Por exemplo: US West e Time Warner, Bell South e Disney, MCI e News Corporation (do empresário australiano Rupert Murdoch). Quase todas estão também envolvidas com a exploração de serviços de TV paga. As alianças são intrincadas, complexas e, com frequência, conflitivas.
Todas as empresas estão também atentas aos movimentos da indústria de telecomunicações em outros países, onde o setor costumava ser monopólio estatal e nos últimos dez anos começou a se abrir ao capital privado.
Primeiro foi a Europa ocidental, depois os países até 89 socialistas da Europa oriental e, mais recentemente, América Latina e China.

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