São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Peres deve ser apontado hoje como premiê

VICTOR CYGIELMAN
DO "EL PAÍS"

A vida de Shimon Peres, nascido Persky, que deve ser apontado hoje para suceder Yitzhak Rabin como premiê, é incomum.
Nascido na Polônia, emigrou para a Palestina em 1933, aos dez anos. Após estudar na escola agrícola de Ben Shemen, fundou o kibutz Alumoth, vale do rio Jordão.
Mas o jovem Peres já demonstrava vocação política: aos 20 anos foi eleito secretário nacional da Juventude Trabalhista. David Ben Gurion interessou-se pelo brilhante orador e excelente organizador, e Peres foi chamado para trabalhar com o "velho leão", ao lado de Moshe Dayan e Teddy Kollek.
Quando a guerra da independência começou, em 1948, Peres foi responsável pela compra de armas para o jovem Estado de Israel.
Ele tinha 25 anos. Quando a guerra terminou, Ben Gurion o enviou aos EUA, sempre com o mesmo objetivo: comprar armas. Aos 30 anos, foi nomeado diretor-geral do Ministério da Defesa.
Peres foi o pai da indústria aérea israelense e do projeto nuclear, graças às relações que criou com a França. Ben Gurion disse: "A força de Shimon é ter uma visão global, sem descuidar dos detalhes".
Peres também possui uma extraordinária capacidade de trabalho. Depois de passar 12 horas no Ministério da Defesa, encontrava tempo para passar com a família e para ler romances antes de dormir.
Não demorou a adquirir fama de intelectual entre os "apparatchiks" do Partido Trabalhista. Em 1974 tornou-se ministro da Defesa no governo de Yitzhak Rabin.
Suas grandes conquistas: a assinatura do acordo interino com o Egito, em 1975, e o resgate do avião sequestrado por terroristas palestinos em Entebbe (Uganda), em 1976. Apesar disso, suas relações com Rabin se deterioraram.
Rabin o acusou de conspirar contra ele. A desavença durou até 1992, quando os trabalhistas voltaram ao poder com Rabin, depois de longo período na oposição.
Enquanto isso, Peres havia sido o premiê de um governo de união nacional com o conservador Likud, entre 84 e 86. Em dois anos, Peres conseguiu iniciar a retirada israelense do Líbano e estabilizar a economia do país, que já havia atingido uma inflação de 400%.
Quando Rabin voltou a chefiar o governo, em 92, escolheu Peres para ministro das Relações Exteriores. Mas o fez a contragosto, obrigado pela relação de forças no Partido Trabalhista. Rabin desconfiava de Peres, embora apreciasse sua inteligência política.
Peres conseguiu, então, um feito que todos julgavam impossível: em poucos meses, convenceu Rabin de que não ambicionava ao seu cargo, mas simplesmente pretendia ajudá-lo a conquistar a paz.
Pouco a pouco foi surgindo uma verdadeira cooperação entre os dois. Peres preparou o terreno, manteve discussões preliminares com a OLP, a Jordânia e se encarregou de manter Rabin informado.
"Peres faz o trabalho sujo e Rabin colhe os frutos", dizia uma pessoa próxima ao ministro das Relações Exteriores. Quando Rabin assinou os acordos de Oslo com Arafat, todos sabiam que, sem Peres, esses acordos jamais existiriam. Peres engoliu em seco.
"Histórias pessoais não vêm ao caso. Para mim, só a paz é importante, e, enquanto ela avançar, estarei ao lado de Rabin", dizia.
Rabin terminou por reconhecer a contribuição de Peres. Começou a elogiá-lo publicamente. O prêmio Nobel da Paz foi dado a Rabin e a Peres, do lado israelense, e a Arafat, do lado palestino.
A dupla Rabin-Peres trabalhava em harmonia. Quando os adversários de Peres zombavam de suas "visões grandiloquentes e ilusórias", Rabin respondia que "Shimon enxerga longe, mas planeja cada passo meticulosamente".
O ministro das Relações Exteriores foi à Conferência Econômica de Casablanca e à de Amã. Peres conseguiu dar início ao processo e, em seguida, fazer o boicote econômico de Israel pelo mundo árabe praticamente desaparecer.
Peres assume o governo no momento em que o prestígio de Israel está no auge -em grande medida graças a ele. É a ele, portanto, que cabe a delicadíssima tarefa de conduzir as negociações com Arafat e, amanhã, com a Síria.

Tradução de Clara Allain

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