São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Defesa tenta anular extradição de Priebke

Advogado quer adiar envio de ex-capitão nazista a Roma

DENISE CHRISPIM MARIN
DA ENVIADA ESPECIAL A BARILOCHE

A defesa do ex-capitão nazista Erich Priebke, 83, pediu anteontem que fosse anulada a decisão da Corte Suprema de Justiça da Argentina em favor de sua extradição à Itália.
Trata-se de mais uma manobra do advogado Pedro Bianchi para atrasar o traslado de seu cliente a Roma. Durante o processo, Bianchi havia exigido a tradução de um processo de 5.000 páginas para incluir no caso de seu cliente.
Segundo o ministro da Justiça da Argentina, Rodolfo Barra, o embarque do ex-nazista deve ocorrer nos próximos dez dias.
Priebke poderá ter acompanhamento médico por causa de seu estado depressivo.
Segundo seu médico particular, Enrique Girón, a depressão piorou o quadro de hipertensão, arritmia cardíaca e senilidade de Priebke. Mas seu estado não pode ser considerado grave.
Priebke praticamente não pisa além dos limites de sua casa há 18 meses. Vive com sua mulher, Alice, 82, no segundo e último andar de um prédio em frente à praça Belgrano, em Bariloche.
Recebe cerca de US$ 200 de aposentadoria. Mas tem pelo menos a renda do aluguel do primeiro andar e térreo do prédio onde vive. Ali funciona o Sanatório e Maternidade Cumelén.
Seis agentes de segurança do governo se revezam na tarefa de custodiá-lo durante 24 horas. Os carcereiros, em dias especiais, chegaram a sentar-se à mesa mais de uma vez para almoçar com Priebke e sua mulher.
Segundo a Folha apurou, Priebke passa os dias lendo best sellers e escrevendo em alemão e em perfeito espanhol.
Recebe e responde pelo menos uma carta de solidariedade por semana. Recorta reportagens sobre seu caso e escreve sobre elas. Priebke mostra alguns textos de sua autoria aos carcereiros.
A TV fica ligada mais para distrair os policiais. Priebke pouco se interessa pelo programação, com exceção de atrações esportivas.
"É como estar com seu avô durante longas jornadas", afirmou um dos policiais à Folha.
Todos os dias, Priebke cumpre alguns rituais. Pedala durante uma hora em uma bicicleta ergométrica. Come pratos leves, para controlar o colesterol alto. E faz a sesta depois do almoço.
Recebe poucas visitas. Alguns velhos amigos da Associação Germano-argentina, seu advogado, Pedro Bianchi, e parentes.
Aos policiais que o acompanham, comentou o que havia se passado em Roma no dia 24 de março de 1944.
Segundo um deles, Priebke lhe disse que seus superiores o retiraram das Fossas Ardeatinas antes que terminasse o massacre porque ele se manifestara contra o ato. (Denise Chrispim Marin)

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