São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Cultura da prisão vira moda entre jovens dos EUA

USA Today
De Arlington

GARY FIELDS

As roupas usadas nas penitenciárias norte-americanas estão virando moda nos EUA, e nada é considerado mais "in" do que os uniformes usados pelos detentos que quebram pedras no Alabama, acorrentados uns aos outros.
O sistema de obrigar presos a fazer trabalhos forçados acorrentados uns aos outros foi reiniciado em maio deste ano, após ter caído em desuso por 40 anos. O departamento penitenciário do Alabama vem recebendo muitos pedidos dos uniformes de calça, camisa e boné brancos usados pelos detentos.
O Estado é proibido por lei de vender as roupas. Mas um empresário de Huntsville, Alabama, criou a companhia Chain Gang Apparel Inc. e espera, dentro em breve, começar a vender ao público roupas do estilo daquelas usadas pelos detentos acorrentados.
As autoridades penitenciárias se preocupam com a possibilidade de algum jovem na moda ser tomado por um preso fugitivo. "Eu odiaria ver alguém andando na rua com uma camisa dizendo Alabama Department of Corrections nas costas", disse o porta-voz da penitenciária do Estado, Tom Gilkeson.
Os presos deram à sua grife de roupas o nome Prison Blues. Os jeans custam US$ 39, e as jaquetas de prisão, US$ 44.
Quem faz um pedido antes do Natal ganha de brinde um boné da penitenciária (US$ 12), feito do jeans usados pelos detentos.
Os slogans publicitários da grife são originais: "Feitas na detenção para serem usadas em liberdade". "Nosso design lembra o da Levi's. Mas, ao contrário do que se poderia pensar, não o roubamos".
Um anúncio mostra uma foto de uma cadeira elétrica, com os dizeres: "Às vezes nossos jeans duram mais do que as pessoas que os fabricam".
Os principais clientes dos detentos são os departamentos penitenciários do Oregon e da Carolina do Sul, mas as roupas também são vendidas no varejo, por encomenda postal e na Internet.
Os 50 detentos que trabalham na indústria de roupas recebem cerca de US$ 7 por hora. A lei exige que eles tenham o mesmo salário que os trabalhadores livres.
Mas 80% do que ganham são destinados a restituições, pensões alimentícias para filhos e moradia.
Que tipo de pessoa livre gosta de ficar parecendo um detento? Os jovens. "Se isso deixar seus pais chateados, eles vão gostar de usar", diz Robert Butterworth, psicólogo que trabalha principalmente com adolescentes.
Richard Stratton, editor da revista "Prison Life" (Vida na Cadeia), acha que existe um interesse cada vez maior pela cultura das prisões de modo geral, e que a moda das prisões faz parte disso.
De 1980 para cá o número de presos nos EUA triplicou, chegando hoje a 1,5 milhão.
O estilo de roupas "baggy", grandes demais para o corpo, começou na prisão. Os detentos são proibidos de usar cintos, que poderiam ser utilizados como arma ou para cometer suicídio.
Segundo Stratton, o rap e a moda das tatuagens também começaram nas cadeias. "São um exemplo de cultura da prisão que passou a integrar a cultura geral".

Tradução de Clara Allain

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