São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Arte de Friedkin salva o frágil 'Jade'

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: Jade
Produção: EUA, 1995, 94 min.
Direção: William Friedkin
Elenco: David Caruso, Linda Fiorentino, Chazz Palmintieri
Onde: a partir de hoje nos cines Ipiranga 1, Belas Artes/sala Oscar Niemeyer, Astor, Center Iguatemi 3 e circuito

"Jade" começa por uma velha história: a de um detetive, David Corelli (Caruso), que ama a principal suspeita de um crime de morte, Trina (Fiorentino). Para completar, ela é casada com um grande amigo seu, o advogado Matt (Palmintieri).
Há também uma intriga de caráter sexual. Trina, que é psicóloga e diretora de um museu, tem vida dupla. Sua vida libidinal com o marido é uma desgraça. Sob o pseudônimo de Jade, porém, ela tira a diferença.
Em seguida, existe uma ramificação política. Aparecem teipes com mulheres transando com o governador da Califórnia. Jade é, segundo consta, a deusa erótica de uma casa distante onde acontecem as farras.
Por fim, temos um típico "whodunit", isto é, história policial em que o problema é saber quem é o culpado.
William Friedkin (diretor de filmes memoráveis, como "Operação França" e "Viver e Morrer em Los Angeles") puxa os vários fios da intriga sem, aparentemente, decidir-se por um deles. Tem motivo, porque nenhuma delas é forte.
Resultado: "Jade" é um filme sem espinha, sem definição de linhas.
A isso se junta um elenco de aplicados coadjuvantes, todos talentosos, mas nenhum com carisma suficiente para suprir as deficiências da intriga. Entre elas, Linda Fiorentino, relançada há pouco como nova musa sexual, papel para o qual não tem, entre outras coisas, fôlego.
O que sobra, porém, é mais do que nada: em plena desgraça, Friedkin opta por fazer um filme cena a cena. Isto é, se o conjunto fracassa, cada plano é invulgar o bastante para que se perceba, por trás da câmera, um cineasta de muito talento.
Isso tira "Jade" da vala comum do cinema standard e, se não o credencia como diversão para o público em geral, em todo caso o torna um caso digno de estudo para quem gosta de cinema.
Ali está quase tudo que um filme não deve ter, ou que o enfraquece. Ao mesmo tempo, é executado por um virtuose cujo toque é admirável: não há planos vulgares, os detalhes são cuidadíssimos, as perseguições -marca registrada do diretor- são exemplares.
Apesar disso, podia-se esperar mais da associação entre um diretor como Friedkin e um produtor de primeira, como Robert Evans.

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