São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
MST promete cumprir acordo com Covas
GEORGE ALONSO
Segundo Rainha, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) vai respeitar o acordo fechado com o governo paulista de não realizar invasões em fazendas da região até 31 de dezembro. O governador Mário Covas (PSDB) prometeu há cerca de um mês assentar em lotes definitivos no Pontal 1.050 famílias até o final deste ano, outras 525 até março de 1996 e mais 525 até junho. Rainha, porém, acusou Covas de usar a mídia para tentar romper, de forma unilateral, o cronograma do assentamento definitivo das 2.101 famílias cadastradas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) na região. "Li nos jornais que ele disse agora que os lotes serão provisórios. Se for isso, não há mais acordo. Se o governo não cumprir a sua palavra, as ocupações voltam. Os trabalhadores vão fazer a reforma agrária", disse Rainha. Itesp O problema, segundo ele, é do governo. "Acontece que o Itesp (Instituto de Terras do Estado) está muito lento e assim só fará a reforma agrária em 70 anos." O MST pretende ter uma nova conversa com o governador esta semana. Para os sem-terra, além da morosidade do Itesp, o governo não está conseguindo acertar a forma de pagamento das benfeitorias das fazendas com os proprietários. Os fazendeiros, que ocupam terras públicas, não querem receber o pagamento das indenizações em TDAs (Títulos da Dívida Agrária), resgatáveis em até dois anos. "O governo acertou com a gente, mas não com os fazendeiros", disse Márcio Barreto, um dos líderes dos sem-terra que esteve preso no Complexo Penitenciário do Carandiru (zona norte de São Paulo). Barreto tem razão. "Queremos em dinheiro. Já cedemos as terras. O pagamento das benfeitorias tem de ser imediato", afirmou à Folha Célio Romero de Souza, vice-presidente do Sindicato Ruralista de Presidente Prudente (570 km a oeste da capital paulista). O MST está disposto até a negociar diretamente com alguns fazendeiros. Seria uma espécie de "política do quinhão". "Só dois ou três fazendeiros são radicais. Já negociamos sem problemas com os fazendeiros das fazendas Flora e Haroldina", declarou Rainha. Recepção Rainha foi recebido com festa, às 15h30, no acampamento que margeia a rodovia que liga Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo) a Sandovalina (640 km a oeste da capital paulista). Às 15h45, sua mulher, Diolinda Alves de Souza, que também ficou presa no Carandiru, chegou ao local. No reencontro com o filho, João Paulo, 2, ambos se emocionaram. Diolinda chorou. A líder dos sem-terra no Pontal chegou acompanhada pelo principal dirigente nacional do MST, João Pedro Stedile. O grupo de trabalhadores rurais que aguardava suas lideranças (cerca de 2.000 pessoas) gritava os slogans "Arroz, feijão, cadeia é pra ladrão" e "Ocupar, resistir, produzir". Em palanque improvisado, os discursos dos dirigentes que tinham conseguido recuperar a liberdade no dia anterior foram mais incendiários dos que as palavras dirigidas aos jornalistas. Mas o MST avalia que saiu vitorioso com a "crise das prisões". Texto Anterior: Diolinda e Deise Próximo Texto: Líder é aplaudido ao atacar Covas e FHC Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |