São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Cantora portuguesa traz o refinamento 'neurótico'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Eugénia Melo e Castro
Direção Musical: Nelson Ayres
Onde: Sesc Pompéia
Quando: de 23 a 25 de novembro às 21h, dia 26 às 20h
Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50

A cantora portuguesa Eugénia Melo e Castro, 37, (com "e" aberto) volta ao Brasil com seu refinamento para uma temporada de quatro dias no Sesc Pompéia.
Ela cantará 15 músicas, seis delas de seu último disco (lançado em abril), dedicado a canções com letras de Vinícius de Moraes.
"Será um show neurótico, com a estética do início deste século", adverte ela, sorrindo.
Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - Que é para você a "língua portuguesa universal": o idioma de Portugal despido dos lusitanismos e o do Brasil sem seus modismos, ou uma certa maneira conjunta de dizer a tristeza, de narrar a melancolia?
Eugénia Melo e Castro - É exatamente o encontro dessas duas coisas, o que é possível ser dito em português nesses dois sentidos.
Folha - Como fica a nostalgia como traço cultural do Vinícius que você interpreta?
Eugénia - A nostalgia é um átomo da própria alma. Entre os portugueses, ela não sai nem com cirurgia cerebral. Vinícius de Moraes vivenciou muito bem essa realidade poética.
Folha - Seu último CD fez mais sucesso em Portugal, onde o Vinícios é o brasileiro, ou aqui, onde você é a portuguesa?
Eugénia - Foi aqui. Vendi mais que esperava. Em Portugal, obtenho sempre o mesmo resultado, em torno de 20 a 30 mil discos.
Folha - Isso não teria ocorrido porque você foi a primeira cantora portuguesa, nos últimos anos, a se fazer conhecida?
Eugénia -Com certeza. Empunhei essa bandeira e estou pronta para passá-la aos demais. Tenho 15 anos de carreira e oito discos lançados no Brasil. Chegou o momento de os demais artistas portugueses falarem de si próprios.
Folha - Quais são, agora, especificamente seus planos?
Eugénia - Vou partir para um trabalho autoral, com coisas produzidas por mim mesma. Quero escrever, gravar minhas coisas. Tenho um disco pronto há anos, desde 1988, com quatro letras ainda sem música, e que desejo acabar de uma vez.
Folha - Um novo ciclo?
Eugénia - De certo modo, sim. Há pessoas que nascem para viver um ano de vida e acabam vivendo 70. Eu nasci para viver 150 anos. Estou em processo de mudança. Não me surpreenderia a mim mesma se gravasse um disco de rock.
Folha - Mas para o show do Sesc Pompéia há muita tristeza, por exemplo, nas peças dos autores portugueses dos anos 10 e 20 que você escolheu.
Eugénia - É verdade e já vou avisando: será um show neurótico, com a estética do início do século. Mas é um neurótico tragicocômico. As letras narram tragédias e neste momento minha vida é muito feliz. Então passo a ter uma vontade louca de rir.
Folha - Isso também acontece com as duas músicas dos anos 20 que abordam dramas derivados da cocaína?
Eugénia - São tragédias horrorosas, com mulheres espancadas. Uma desgraça!
Folha - Por que suas temporadas têm sido tão curtas?
Eugénia - Há nisso um dado pessoal. Há quatro anos, quando fiz uma temporada de três semanas seguidas, acabei na cortisona.
Folha - Você foi uma criança doente?
Eugénia - Tive uma leucemia no sistema linfático. Possuo resistência física muito limitada e tendência à afonia.

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