São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995 |
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O mal menor Diante de certas situações, não há como fugir do paradoxo expresso no provérbio popular segundo o qual "há males que vêm para bem". Dados divulgados no congresso da Associação Brasileira de Magistrados e Promotores da Infância e Juventude, realizado nesta semana em São Paulo, registram que 4,8 mil crianças brasileiras foram adotadas na Itália, entre 86 e 92. Ou seja: pelo menos 60 crianças saíram mensalmente do Brasil nesse período. Como os dados se referem a um único país e apenas às adoções legais, e como não há ainda estimativas do que se passa no próspero mercado negro das adoções, pode-se constatar que o país vive hoje, dramaticamente, uma verdadeira diáspora da infância abandonada. Não há dúvidas de que o comércio clandestino de crianças deve ser coibido. Desconfia-se até que haja no Brasil mulheres que se dispõem a procriar para receber em troca uma boa compensação pecuniária. Também não se poderiam negar as vantagens de uma adoção estritamente legal. Quando porém o problema do menor desassistido atinge as exorbitantes dimensões brasileiras, e os sistemas estatal e judiciário parecem pouco contribuir para minorá-lo, torna-se inevitável imaginar, entre duas opções, qual seria o "mal menor": combater drasticamente a ilegalidade nas adoções internacionais ou fazer vistas grossas para uma clandestinidade que, afinal, resgata milhares de crianças de um destino infame? Texto Anterior: Sem-terra, mas sem-cadeia Próximo Texto: Concorrência no ar Índice |
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