São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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A política acabou

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Se algum jornal se animar a usar como manchete de primeira página o título que encabeça este texto, não creio que as massas se mostrem comovidas, excitadas ou acabrunhadas.
Política nunca foi um esporte popular entre as grandes massas, especialmente no Brasil. Mas foi sempre um jogo que seduziu quem manda de fato, o que certamente ajuda a explicar por que as massas em geral se dão mal há muitos e muitos anos.
Pois há sinais, agora, de desinteresse até daquele segmento muito específico que se interessa por política.
Basta ver os primeiros cadernos dos jornais ditos de prestígio, que dedicam suas páginas iniciais justamente para a política. Depois da eleição de 94 e especialmente após a posse dos novos governos, tais cadernos passaram a ser ocupados quase inteiramente por assuntos que, em outras eras, seriam considerados mais administrativos do que políticos, como é o caso das reformas constitucionais.
Um detalhe, menor talvez, mas simbólico, indica que não é erro de avaliação dos editores. Anteontem, o programa "Gazeta ao Meio-Dia" levou o governador Mário Covas para ser entrevistado.
A apresentadora, Maria Lydia, imaginava ocupar o primeiro dos quatro blocos com uma discussão política, deixando os três restantes para questões administrativas.
Pois não é que não pingou uma só pergunta de telespectador sobre política, ao tempo em que choviam telefonemas e faxes sobre temas de administração, em especial a reforma educacional esboçada pelo Estado?
Note-se que é um programa essencialmente político. Seu público, portanto, é mais, digamos, politizado do que o comum dos mortais.
Se nem essa gente se interessa pelas opiniões políticas do detentor do segundo cargo político mais importante da República, então é porque a política está nos estertores.
A questão é saber o que se vai pôr no lugar dela, até porque não se inventou ainda outro método de intermediação entre o Estado e a sociedade.

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