São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Vítimas denunciam 'apartheid' da violência

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A operação de busca de informações levou familiares e entidades de direitos humanos a uma conclusão. O tratamento das autoridades policiais varia de acordo com o poder aquisitivo da vítima.
"A polícia pôs 300 policiais para procurar os sequestradores do Eduardo. E os nossos filhos que foram assassinados? Só porque somos pobres e pretos não temos o mesmo direito?"
O desabafo é de Vera Lúcia Flores Leite, uma das "Mães de Acari". Ela se referia à ação da polícia para descobrir os sequestradores de Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, filho do presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).
A luta para encontrar sua filha Cristiane Leite de Souza, que sumiu aos 16 anos com outros dez jovens, fez de Vera uma ativa militante de direitos humanos. Para ela, a violência é mais um dado do "apartheid social" do país.
"Por acaso o presidente da Firjan nos procurou alguma vez para manifestar sua solidariedade à dor pela perda dos nossos filhos?", pergunta. As "Mães de Acari" estão sendo procuradas agora para engrossar as manifestações contra os sequestros no Rio.
Elas lembram que muitas vezes autoridades se recusaram a recebê-las. "Seu filho não tinha inimigos no tráfico?", chegou a perguntar um delegado a uma delas.
O sociólogo Caio Ferraz concorda com a tese do tratamento diferenciado para ricos e pobres. "Rico é sequestrado. Pobre é desaparecido, é raptado", afirma.
Advogada de desaparecidos comuns, Cristina Leonardo diz que a impunidade de policiais envolvidos comprova a discriminação: "Quantos desses casos de violência policial foram punidos? Nenhum".

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