São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nem pressão internacional soluciona crimes

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem o empenho de entidades como Anistia Internacional e Human Rights Watch/Américas, e de autoridades estrangeiras, como o ex-presidente francês François Mitterrand, são capazes de desvendar os desaparecimentos no Brasil.
As duas mais poderosas entidades internacionais de direitos humanos e o ex-presidente francês tiveram atuação importante na denúncia de três casos de desaparecimentos. Houve grande repercussão dentro e fora do Brasil.
Um desses casos se tornou mais conhecido em virtude das "Mães de Acari". Acari é a favela do Rio em que moravam 11 jovens negros supostamente sequestrados e assassinados pela polícia em 1990, quando passavam um fim-de-semana em um sítio.
Os dois outros casos são mais recentes. Um deles é o de Jorge Careli, que trabalhava como contínuo da Fundação Oswaldo Cruz. Foi preso em agosto de 1993, confundido como sequestrador ao falar com a namorada em um orelhão. Há suspeitas de que foi torturado e queimado ainda com vida.
A outra vítima é o advogado Marcos Antonio Rufino da Cruz, que trabalhava na Biblioteca Nacional, no Rio. Ele desapareceu em novembro de 1994, durante a "Operação Rio", realizada pelo Exército nas favelas cariocas.
As "Mães de Acari" são fruto do desinteresse das autoridades em apurar esse tipo de crime.
Para tornar isso público, todas as segundas-feiras elas protestam mostrando as fotos de seus filhos, na Cinelândia, centro do Rio.
Em março do ano passado, duas dessas mães foram convidadas para fazer suas denúncias na França e na Suíça.
Em Paris, almoçaram com a primeira-dama Danielle Mitterrand e foram recebidas por Mitterrand.
Danielle Mitterrand se sensibilizou com o drama. Doou 91 mil francos (US$ 15 mil reais) para a publicação de um livro que conta a saga de um grupo de mães em busca da verdadeira história do sumiço de seus filhos.
O livro, "Mães de Acari - uma história de luta contra a impunidade", do jornalista Carlos Nobre, saiu no ano passado, com prefácio de Danielle Mitterrand.
Este ano, uma das mães exporá o caso na Itália.
Casos como o das "Mães de Acari", de Jorge Careli e de Marcos Rufino são responsáveis por uma média diária de 140 cartas enviadas do exterior para autoridades brasileiras.
Todas pressionam o governo a esclarecer esses crimes.

Texto Anterior: Mãe diz que filho foi torturado até a morte
Próximo Texto: Lista dedesaparecidos vai parar na Internet
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.