São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Chego a Charles de Gaulle deixando John F. Kennedy e pessoas fumam enquanto esperam que suas malas surjam na esteira rolante. Mon Dieu, há cinzeiros no aeroporto!
E no táxi, nenhum aviso.
Em Nova York adoram avisos.
Entra-se num yellow cab e uma colcha de retângulos vermelhos e amarelos informa que não se pode fumar ("é a lei!"), que é preciso pagar antecipadamente o pedágio do túnel, que o motorista deve ter sua identificação à vista, que você tem direito a uma variedade de inutilidades referentes ao uso do táxi, mas não deve bater bruscamente a porta.
No banheiro do bar um adesivo intrui os empregados a lavarem as mãos antes de voltar ao trabalho.
É fácil entender Jenny Holzer.
Em Paris, estreou na semana passada o filme "Apollo 13", que São Paulo já viu. Capital do cinema, mas nem sempre com os ponteiros acertados.
Em Nova York, o MoMA abre as portas para uma grande retrospectiva de Pietr Mondrian, que nasceu na Holanda, mudou-se para Paris e viveu na própria Gotham City -onde compôs, na tela, os "Boogie-woogies".
Parisienses, que amam o jazz, podem ver desenhos magistrais de Andy Warhol na megaexposição "Femininomasculino - o Sexo da Arte", no Centro Pompidou -que inclui "Trepantes" da brasileira Lygia Clark.
A morte de Deleuze não significou nada para os americanos.
Há brasileiros em todo canto. Um psicanalista amigo meu diz que os brasileiros são os americanos dos anos 20. Otimismo.
Ouço Caetano Veloso na loja da Comme des Garçons, no Soho. No dia seguinte, entre amigos, no Noho, ele conta como foram as fotos que fez em Nova York para o catálogo do italiano Gigli.
Fernando Pessoa e Machado de Assis defendem as cores da língua portuguesa nas livrarias parisienses. Com o velho apoio de Jorge Amado e o incrível estouro de Paulo Coelho.
Monsieur Lapin está com tudo na França. A cada esquina tropeça-se em seu "Alquimista', que ganhou prêmio de melhor livro, conferido pelas leitoras da revista... "Elle". Ulalá!
Pizzicatto Five está nas paradas de Nova York.
Programa de videoclip na TV francesa é de matar. Farto festival de abacaxis transados.
Em Grenoble, um poeta argentino, fã de Sousândrade ("O Inferno em Wall Street"), mas também de Sepultura e Ratos de Porão, me conta que um grupo portenho gravou "Cambalache" em versão heavy. Já estava no disco branco de Caetano Veloso. Letra magistral:
"Siglo 20 cambalache, problemático e febril".

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