São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Equipe discute fusão dos dois bancos

FERNANDO GODINHO; GUSTAVO PATÚ; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Fazenda e o Banco Central retomaram na manhã de ontem uma reunião para decidir o futuro do Banco Nacional. Em discussões que se arrastaram da noite de sexta-feira à madrugada de sábado, não foi possível concluir a negociação para a fusão com o Unibanco.
As reuniões começaram logo após o anúncio da MP (medida provisória) 1.812, que dá poderes ao Banco Central para desapropriar ações de instituições financeiras em dificuldade, trocar seu controle acionário e determinar a reorganização societária dessas empresas.
Segundo técnicos do BC que participaram das discussões, as medidas previstas na medida provisória estão sendo cogitadas como forma de facilitar um desfecho para as negociações entre os dois bancos privados.
O banqueiro Paulo Moreira Salles, representante do Unibanco, participou das reuniões de anteontem no BC. Há cerca de um mês, o Unibanco intensificou as negociações para a fusão ou a incorporação de parte do Nacional, o que pode resultar inicialmente no maior banco privado do país.
Segundo a Folha apurou, o BC trabalha com a possibilidade de iniciar uma administração compartilhada com o Nacional e, como integrante da diretoria do banco, concluir o negócio com o Unibanco.
Seria uma espécie de "intervenção branca", que manteria o banco em funcionamento e ao mesmo tempo tranquilizaria os clientes.
Uma segunda alternativa era considerada na noite de sexta-feira para o caso de não ser viável uma solução de mercado: uma intervenção formal do BC no Nacional, visando sua venda no curto prazo.
O presidente do BC, Gustavo Loyola, cancelou todos os compromissos que tinha em São Paulo neste final de semana para permanecer em Brasília. Uma decisão final sobre o destino do Nacional pode ser anunciada ainda neste fim-de-semana.
A Folha apurou que o Banco Nacional vem sofrendo saques de clientes pessoas jurídicas desde a última quinta-feira. Esses clientes possuem depósitos acima de R$ 20 mil, o limite de cobertura do seguro criado na última quinta-feira.
O Unibanco é o sexto maior banco privado do país, com R$ 5,95 bilhões segundo dados de dezembro do ano passado. O Nacional, quarto do ranking, possuía na mesma data R$ 7,09 bilhões em depósitos.
A fusão dos dois bancos, que juntos possuem 798 agências, resultaria na maior instituição privada do país. Entretanto, o BC prevê que após a fusão haveria um programa de enxugamento de pelo menos cem agências. O novo banco acabaria sendo o terceiro maior do setor privado.
Trapalhadas
Desde o início do mês, o governo contribuiu para alimentar o clima de insegurança no mercado financeiro, ao publicar, na madrugada do último dia 4, sábado, a medida provisória que facilita as fusões bancárias por meio de benefícios fiscais e empréstimos privilegiados.
Apesar da aparente pressa em fazer vigorar a medida, nenhuma autoridade da área econômica se pronunciou sobre as novas regras até a reação negativa do Congresso na semana seguinte. Ainda por cima, a regulamentação da MP só foi concluída duas semanas depois de sua edição.
O último capítulo das trapalhadas ocorreu anteontem. Depois de negar em entrevista coletiva haver pressa em solucionar o caso Nacional, a equipe econômica se fechou em reuniões sobre o assunto até a madrugada de ontem.
(Fernando Godinho, Gustavo Patú e Cari Rodrigues)

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