São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Nutrasweet terá produto que une adoçante e açúcar

DA REPORTAGEM LOCAL

A Nutrasweet, líder mundial do setor de adoçantes, prepara uma ofensiva no mercado brasileiro. O primeiro passo é uma inédita associação com indústrias de açúcar -até há pouco impensável, devido à concorrência entre os dois produtos.
A idéia é desenvolver no Brasil produtos híbridos derivados de açúcar e adoçante. A empresa ainda faz segredo de tudo, principalmente das cifras, até porque trata-se de um mercado virgem.
O primeiro filhote será um preparado em pó para refresco, como já existe na Argentina. Além do baixo teor calórico, esse tipo de produto ocupa menos espaço -e, portanto, pode ter embalagens menores-, porque o adoçante apresenta volume menor do que o açúcar.
Também está nos planos da empresa introduzir no país o conceito de "sistema de adoçantes" -mistura de dois ou mais desses ingredientes, capaz de reduzir a dependência dos negócios em relação ao aspartame, responsável hoje por 98% das vendas da organização.
A empresa praticamente fechou acordo nesse sentido, mas prefere manter o parceiro no anonimato -o contrato ainda não foi assinado. Daí devem surgir novas misturas destinadas ao consumidor final e matérias-primas para a indústria de alimentos e bebidas.
A entrada dos produtos no mercado pode demorar um pouco. Ainda depende de mudanças na legislação que autorizem a venda.
Por trás de toda a negociação está um engenheiro paulistano de 39 anos. Paulino Barros Júnior começou na Monsanto, empresa que controla a Nutrasweet, em 1979, no último ano do curso de engenharia mecânica.
Sem jamais ter mudado de emprego, Barros acumula experiências em diferentes áreas do grupo. Começou na manutenção, passou pela segurança, foi conduzido à área de marketing, chegou a gerente de produto e decolou em direção ao atual posto, de diretor-geral da Nutrasweet para a América Latina, uma das cinco diretorias-gerais da empresa no mundo.
Entrou na Monsanto pela porta do estágio. Conquistou a vaga após apresentar à empresa seu projeto de graduação em engenharia.
Barros sugeriu o aproveitamento do vapor da fábrica para pré-aquecer a água usada nas próprias caldeiras. A proposta representava economia numa época em que o custo da energia se aproximava do proibitivo. Era uma idéia muito simples, mas ninguém na empresa havia pensado nela até então.
O projeto lhe rendeu a conclusão do curso pela Escola de Engenharia Industrial de São José dos Campos e o cargo de encarregado de manutenção na fábrica da Monsanto, na mesma cidade, em 1981.
Mais dois anos de estudo deram a ele o diploma de engenharia elétrica. Foi quando recebeu a missão de cuidar da segurança industrial, uma das obsessões da Monsanto.
"Em 1982, estávamos com um recorde de oito acidentes na fábrica. Nada grave, mas, para a Monsanto, isso era um absurdo", conta. Nessa época, conheceu e começou a namorar a jornalista Celene Moreno, com quem se casou.
Deixou a função pouco mais de dois anos depois para trabalhar no setor de marketing. Logo em seguida, a fábrica de São José era premiada como a de melhor desempenho em segurança de todas as unidades da Monsanto no mundo, após mil dias sem acidentes.
A passagem pelo marketing serviu para Barros ganhar experiência em duas áreas que até então ele desconhecia: comunicação e leis.
A Monsanto estava trazendo para o Brasil o saflex, uma película plástica de segurança utilizada em vidros para construção e na indústria automobilística. Ao se quebrar, o vidro com saflex mantém os estilhaços presos à película, evitando cortes. Barros participou do lobby que tornou o uso do produto obrigatório nos carros nacionais, a partir de 1988.
Logo em seguida, participou, já pela Nutrasweet, da pressão que aprovou a venda do primeiro refrigerante diet do país, o Diet Dolly, em 1988. Essa experiência ele pretende repetir agora, para obter liberação dos novos produtos.
Em 1989, foi para os Estados Unidos cuidar dos novos mercados de saflex para a América Latina. Junto com a mulher, fez mestrado em negócios (Master Business Administration, MBA) pela Universidade de Washington.
A experiência seguinte foi cuidar do desenvolvimento de mercado para um produto chamado "eggcellent", uma gema de ovo industrializada, da qual são retirados gordura e colesterol.
Depois de dois anos, quando se preparava para voltar ao Brasil, o executivo foi convidado a se transferir para a sede da Nutrasweet, em Chicago. Em menos de dois anos ganhou a direção-geral da empresa para a América Latina -um mercado de 430 milhões de pessoas, considerado pela empresa o de maior potencial de crescimento, junto com China e Índia.
Barros gosta de atribuir o sucesso de sua carreira como executivo -principalmente nos EUA- ao "talento" da mulher, a quem hoje chama de "gerente de casa".
"Eu dei a ela um carro e um cartão de crédito. Ela comprou uma casa e montou a casa inteira. Eu tenho uma MBA para cuidar de casa. É uma pessoa de um talento extraordinário", diz.
"Eu acho importante para o executivo que a família esteja estruturada. Você não consegue trabalhar oito horas por dia se sabe que, ao chegar em casa, vai ser um pesadelo."

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