São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Dividida, Polônia escolhe hoje presidente

ADRIAN BRIDGE
DO "THE INDEPENDENT"

Apenas duas semanas atrás o jornal mais vendido da Polônia, o "Gazeta Wyborcza", descrevia o presidente Lech Walesa como "imprevisível, irresponsável, irreformável e incompetente".
Hoje, enquanto os poloneses se preparam para votar no segundo turno da eleição presidencial polonesa, o jornal mudou de tom.
"Apesar de tudo, Walesa", disse o "Gazeta" nesta semana, num artigo cujo público-alvo eram os muitos eleitores ainda indecisos.
Embora muitos poloneses não considerem Walesa um chefe de Estado ideal, vêem com temor ainda maior uma vitória de seu rival, Aleksander Kwasniewski, da Aliança da Esquerda Democrática (SLD), um ex-ministro no último governo comunista do país.
As pesquisas de intenção de voto indicam que uma maioria apertada pensa como Jacek Kuron, terceiro colocado no primeiro turno -"um candidato ruim e outro ruim"-, mas a disputa de hoje promete ser acirrada.
As sondagens dão de dois a três pontos de vantagem a Walesa, cujo primeiro mandato presidencial foi maculado por disputas com o Parlamento e com ex-aliados.
A chave talvez seja o índice de comparecimento às urnas: se a abstenção for grande, isso pode beneficiar Kwasniewski, cujos defensores são mais organizados.
Para muitos poloneses, a eleição representa uma reprise da briga entre o comunismo (e seus sucessores), sob a forma de Kwasniewski, e o movimento Solidariedade, antes liderado por Walesa, que derrotou o comunismo.
Diferentemente do que aconteceu na campanha para o primeiro turno, ambos os lados recorreram a golpes baixos. Kwasniewski sofreu acusações de enriquecimento ilegal de sua mulher e de haver deixado de mencionar na declaração de renda que fez enquanto deputado os altos valores que ela detém em ações.
Para a equipe de Walesa, as acusações são indicativas das maneiras ilícitas pelas quais os ex-comunistas vêm enriquecendo desde que perderam o poder formal.
Mas o presidente também tem sido questionado. Pergunta-se se ele pagou impostos sobre US$ 1 milhão que recebeu da Warner Brothers em 1989 pelos direitos de filmar a história de sua vida. Ele também foi acusado de utilizar os serviços secretos na campanha.
Ambos negam qualquer delito, e é impossível avaliar qual deles foi mais atingido pelas acusações. O efeito delas tem sido desviar a atenção do público da discussão sobre suas diferentes posições.
Mas as divergências não são tão grandes. Nos debates da semana passada, ambos disseram querer dar continuidade às reformas econômicas e ver o país integrado à União Européia e à Otan.
Kwasniewski, mais instruído do que Walesa e sabendo expressar-se melhor, diz que está mais bem posicionado para sanar as divergências na sociedade.
Embora expresse respeito pelas realizações de Walesa na direção do Solidariedade, ele o compara a um atleta envelhecido que continua se gabando de uma medalha de ouro que ganhou no passado.
Não é a primeira vez que o lugar de Walesa é visto como sendo a lata de lixo da história -e é provável que não seja a última.

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