São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995 |
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Angola atrasa implantação de acordo de paz
RUI NOGUEIRA
Todo o cronograma do acordo de paz está atrasado -o desarmamento dos guerrilheiros da Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), que mal começou, deveria terminar em setembro passado. A missão de paz da ONU, com 7.600 soldados de 11 países, está atolada em problemas de infra-estrutura e começa a ser questionada politicamente. Sem dinheiro -as dívidas da ONU chegam a US$ 3,5 bilhões-, a missão de paz está em dificuldade para movimentar as tropas (leia nesta página) pelos 1,246 milhão de km² do país. O temor é de que a missão, recém-instalada em Angola, sofra do "mal de Chipre" -país mediterrâneo onde a ONU mantém há 31 anos uma força militar para garantir a paz que envolve uma disputa entre gregos e turcos pela ilha. Na ex-colônia africana, no entanto, os atropelos da ONU parecem ser menores do que os problemas de relacionamento entre o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), o partido no poder, e a Unita, a guerrilha de oposição desde que o país se tornou independente de Portugal, em 11 de novembro de 1975. "Depois de duas décadas de guerra civil, é natural que as relações sejam difíceis, que ainda haja desconfiança recíproca", disse à Folha o embaixador brasileiro em Angola, Alexandre Addor. "A Unita não está agindo com seriedade e resiste em deixar de ser um partido armado para se transformar em político", disse o escritor e deputado do MPLA, Fernando Costa Andrade. Ele esteve em Brasília há duas semanas. O líder da Unita, Jonas Malheiro Savimbi, reforçou as suspeitas ao anunciar, em visita, à África do Sul, no mês passado, que só voltará a Luanda, a capital, após formado o governo de união nacional. Savimbi está fora do país desde que a Unita foi derrotada nas primeiras eleições gerais, em 1992. Para a chefia do governo, o atual presidente, José Eduardo dos Santos, teve 49,57% dos votos contra 40,07% de Savimbi. O segundo turno das eleições presidenciais está por acontecer. Apesar de supervisionada por observadores da ONU, a eleição foi contestada por Savimbi, que retomou a guerra civil. Pelo acordo de paz, a ONU deverá preparar 15 áreas para o aquartelamento dos 60 mil guerrilheiros da Unita que entregariam suas armas. O primeiro aquartelamento, montado na Província do Huambo (sul) gerou uma série de desconfianças. O MPLA levantou suspeitas de que a Unita estava apresentando jovens recrutas e escondendo os verdadeiros guerrilheiros, e entregando armas obsoletas no lugar do equipamento pesado. A missão de paz da ONU supervisiona precariamente os aquartelamentos e não consegue chegar às zonas sob comando da Unita, no leste do país, onde estão as minas de diamantes. Na opinião do embaixador angolano no Brasil, Serra Van-Dúnem, isso reforça a intenção geoeconômica da Unita em manter no país uma divisão expressa na equação "diamantes para a Unita, petróleo para o MPLA". A prospecção de petróleo concentra-se na região nordeste e no litoral, regiões controladas pelo MPLA. "Nós não aceitamos essa divisão e nem garimpeiros aventureiros e mercenários invadindo o país na fronteira com o Zaire (ao norte) atrás dos diamantes." O governo angolano pressiona a missão de paz para que ela comece a agir com mais intensidade. Mas a burocracia faz a ONU se movimentar lentamente e com cautela. Um batalhão brasileiro que iniciou no dia 2 o deslocamento da cidade do Lobito, no litoral, para o interior, com o apoio de 14 carretas cedidas pela ONU, teve de interromper a marcha porque as chuvas derrubaram uma ponte. A longa permanência dos soldados dos 11 países em Luanda e Lobito já criou pelo menos duas situações constrangedoras para o comando da missão. O coronel português Bento Soares, chefe das tropas da ONU, e um assessor foram assaltados no trânsito em Luanda. Um soldado romeno foi metralhado por tropas do governo ao se envolver em agenciamento de prostituição. Texto Anterior: Escândalo de chantagem envolve rei da Espanha Próximo Texto: Brasil tem o maior contingente no país Índice |
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