São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Seguro caro

Desde a introdução do real, o uso da taxa de câmbio como "âncora" da estabilização esteve no centro das discussões sobre a concepção do Plano. A valorização do real frente às moedas estrangeiras barateou as importações, conteve os preços, mas deixou latente um fantasma sobre as contas externas. Especialmente depois da crise do México, a sucessão de déficits comerciais do Brasil acendeu sinais de alerta, até no governo.
Os superávits comerciais ao longo dos últimos meses e que, segundo já crêem as autoridades econômicas, poderão repetir-se em novembro, sem dúvida exigem uma requalificação do debate.
O saldo de US$ 334 milhões em outubro tem várias explicações, algumas de ordem externa. É fato, por exemplo, que as exportações brasileiras para os mercados asiáticos tiveram aumento expressivo, em decorrência da valorização do iene frente ao dólar. Os europeus também foram bons compradores de produtos brasileiros.
De modo geral, os mercados mundiais ainda crescem, assim como sobem os preços de importantes "commodities" de exportação do Brasil, favorecendo as vendas externas apesar do câmbio corrigido abaixo da inflação.
Os custos de manter a âncora cambial, entretanto, são igualmente visíveis. Para reduzir as importações, o governo desacelerou significativamente o ritmo de crescimento da economia, restringiu o crédito ao consumo e elevou dramaticamente os juros, elevou tarifas de importação e vem também usando procedimentos administrativos, como a redução nas cotas de compras dos "sacoleiros" no Paraguai.
A dúvida maior, admitida pelo próprio secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, está justamente na viabilidade de manter tamanhos e tão arbitrários controles sobre as importações no médio prazo.
No curto prazo, porém, o saldo comercial tornou-se um importante seguro, ainda que caro, que a sociedade brasileira paga pelo sucesso da estabilização.

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