São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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De palavras e atos

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA -Como se sabe, Fernando Henrique está empenhado em aprovar no Congresso a reforma administrativa. O presidente possui ótimos argumentos. Diz, por exemplo, que é hora de profissionalizar as repartições públicas. Impossível discordar.
Logo que assumiu, Fernando Henrique emitiu os primeiros sinais de que poria ordem na casa. Rejeitou, de saída, a hipótese de aproveitamento de seus familiares na administração pública. Disse que o eleito era ele e não sua família. Bom, muito bom.
Há, porém, um problema: registra-se uma estranha dessemelhança entre a retórica e a prática do presidente. Sim, ele fala uma coisa e faz outra. Comece-se por recordar que nomeou a mulher para a presidência de honra do Comunidade Solidária.
Até aí, nada a opor. A atividade acadêmica da senhora Cardoso é conhecida e admirada. Pareceu à época capacitada para a função, de resto não-remunerada. O próprio Fernando Henrique está insatisfeito com seu desempenho. Mas essa é outra história.
Mais recentemente, o presidente deu emprego à filha, Luciana Cardoso. Levou-a para o Planalto. Incumbiu-a de exercer algumas atribuições antes entregues a seu secretário particular, Francisco Graziano, transferido para o Incra.
Ao contrário da mãe, Luciana é remunerada. Seu salário não é desprezível: R$ 3.800,00. Informou-se inicialmente que elaboraria a agenda e responderia a correspondência do pai.
Acossado por uma ação popular que pede a exoneração da filha do presidente e a devolução dos vencimentos já percebidos, o Planalto informou que Luciana não está subordinada ao pai, mas a Eduardo Jorge, secretário-geral da Presidência.
Providenciou-se rapidamente a contratação de outra pessoa para cuidar da agenda presidencial: José Lucena Dantas. Mas Luciana continua em Palácio.
Agora vem a transferência de Itamar Franco de Lisboa para a representação junto à OEA, em Washington. Embora o ato de nomeação leve a assinatura do presidente, quem tomou a decisão foi June Drummond, companheira de Itamar. June quer porque quer morar nos EUA. E, como que investida na função de chanceler, forçou a transferência.
O governo fala em profissionalizar a máquina. Mas dá os piores exemplos.

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