São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Revirando o baú

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na cena mais antiga que guardo na memória, pai e mãe chegam da maternidade, trazendo meu irmão Claudio. Nítida, mas desprovida de som ou movimento, é como uma foto; pena que a falta de "scanner" apropriado me impeça de mostrá-la ao mano.
Curioso por gosto e princípio, espero que o "Globo Repórter" esclareça logo como funciona "essa coisa de memória". Enquanto isso, aproveito o fato de que a ignorância da causa não estraga o sabor do efeito: ao contrário, lembranças da infância são como os bons vinhos etc...
Na época, eu já possuía uma pequena coleção de impressões da TV, recolhidas em casa de vizinhos. São hoje um amontoado de fragmentos, boa parte em forma de "fotos", uma ou outra vagamente sonorizada.
Silvio Santos anuncia que o prêmio é um automóvel Gordini, e o auditório: "Zerinho, zerinhooo"... Os palhaços Henrique, Pimentinha e Arrelia... "Crush em Hi-Fi" -que programa era esse, mesmo? ... A musiquinha do "Pim Pam Pum" (7 e 7 são 14, com mais 7, 21...).
Cidinha Campos, hoje na política, ancorando o "Pullman Jr".... Homem-Mola, Homem-Fluido e Multihomem eram "Os Impossíveis, desenho do programa "Zás-Trás". A apresentadora era uma loirinha, a "tia Clau" - Claudete Troiano, hoje no "Mulheres", da CNT/Gazeta.
O quarto ano foi duplamente histórico. Na escola, um estranho fenômeno fazia com que as meninas, chatas e sem-graça no ano anterior, nos parecessem cada vez mais simpáticas e atraentes. Como, por feliz coincidência, a recíproca era verdadeira, criava-se um inédito clima de tolerância e aproximação.
Em casa, finalmente compatível com o orçamento, chegou a imponente TV Strauss de 23 polegadas. Não me tornei tevemaníaco porque também havia gibis, "rachas" no quintal e futebol de botão; mas crianças também precisam relaxar de vez em quando, e, ora bolas, a TV estava logo ali...
Há, contudo, séries que parecem ter simplesmente evaporado. Por exemplo, "Ben, o Urso Amigo": um garotinho, morador de um pântano dos EUA, e filho de um guarda florestal, tem um urso selvagem como companheiro.
"Maya" tinha imagens espetaculares. Contava as aventuras de garotos hindus pobres -nada a ver com o mauricinho Radji, do desenho "Johnny Quest"- que percorriam o país natal sobre o lombo de uma elefanta -a Maya.
"Daktari" era uma reserva/hospital veterinário na África, onde viviam um leão estrábico (Clarence), um chimpanzé (Judy), a estonteante enfermeira humana, Paula, e sua família.
Após um ano cursando a "admissão", indispensável purgatório entre primário e ginásio, ingressei em uma escola pública experimental.
Coisa rara, grande novidade no bairro, mas insignificante diante das pegadas frescas de Neil Armstrong na areia lunar, e, cá embaixo, do bem-sucedido pouso das novelas no solo da modernidade: estava em cartaz "Beto Rockfeller".
Nessa mesma época, nos EUA, os adolescentes Kevin Arnold e Gwendolin (Winnie) Cooper estavam recém-enamorados. Na tela e fora dela, anos incríveis começavam.

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