São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ACM quer 'justiça a quem foi injustiçado'

DA AGÊNCIA FOLHA; DA REPORTAGEM LOCAL

Senador aguarda a mesma solução do Nacional para o Econômico; empresários e sindicalistas criticam medidas
O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) afirmou que o governo deve agora fazer "justiça a quem foi injustiçado, o Banco Econômico e a Bahia" ao comentar, ontem, a solução encontrada pelo governo para resolver a crise financeira do Banco Nacional.
"Tudo o que foi feito para o Nacional já tinha sido solicitado por mim para o Econômico."
Ele diz aguardar que o Banco Central e o governo Fernando Henrique Cardoso reconsiderem seus erros e dêem a mesma solução do Nacional para Econômico.
Mamata
Empresários da indústria e da agricultura estão indignados com as facilidades concedidas pelo governo para a fusão de bancos.
"É uma mamata", disse Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), ao se referir à taxa de juros de 2% ao ano para a linha de crédito para financiar as fusões.
"É mais um Econômico", disse Joseph Couri, presidente do Simpi, que reúne pequenas empresas.
Segundo Magalhães, da Abimaq, isso só acontece porque os bancos, junto com as empreiteiras, financiam as campanhas eleitorais.
Para ele, tinha de deixar o banco fechar. Sérgio Bergamini, diretor da Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), tem a mesma opinião. "Deveria ter só intervenção e liquidação extrajudicial no Nacional."
Para ele, o governo está doando dinheiro para os banqueiros ao cobrar juros de 2% ao ano. "Nem de pai para filho se cobra isso."
Enrico Misasi, presidente da Olivetti, apesar de considerar correta a medida, porque deu garantias aos correntistas do Nacional, acha negativa a forma como está sendo financiada a fusão.
A solução dada para os bancos é cara e abre precedentes para outros setores da economia, como a agricultura, afirmou.
"A fusão é necessária, desde que à custa deles, não do contribuinte", disse Ney Bittencourt, presidente da Associação Brasileira do Agribusiness.
Na opinião de Bittencourt, a medida provisória que permite as fusões é injusta ao dar vantagens para o sistema financeiro, em detrimento a outros setores da economia, como, por exemplo, a agricultura.
Sindicalistas
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (filiado à Força Sindical), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, "o dinheiro da população não pode ser usado para salvar bancos".
O sindicalista considera "um absurdo" que o BC empreste recursos a juros baixos.
"O governo tenta segurar o sistema financeiro. Mas deveria investir em outras áreas. Quando se fala em investir na produção, a situação é muito diferente." Ele teme aumento do número de demissões no setor.
Luiz Antônio de Medeiros, presidente da Força Sindical, disse que a intervenção do BC no Nacional provoca "insegurança generalizada na população" sobre o que acontece com o sistema bancário.
Para o sindicalista, a compra do Nacional pelo Unibanco é uma demonstração de que "o governo está sempre socorrendo o sistema financeiro com o nosso dinheiro".
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), disse estar preocupado com o "excessivo poder dado ao BC com a MP das fusões" e com as demissões no setor bancário.
Vicentinho não quis fazer uma análise da forma como se deu a intervenção no Banco Nacional.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT), Heiguiberto Navarro, o Guiba, disse que "ainda não entendeu muito bem" os detalhes.
Mas acha que vai haver grande número de demissões. "O presidente do Unibanco admitiu que será necessário um enxugamento."

Texto Anterior: Juro do CDB cai para cliente do Nacional
Próximo Texto: Crise teve várias causas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.