São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Mercado prevê início de onda de fusões

MILTON GAMEZ; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um jovem executivo de um banco de negócios reúne-se com um banqueiro de médio porte e dispara:
- O senhor quer comprar algum banco?
- Não, responde o banqueiro.
- Quer vender?
A cena, relatada à Folha por um executivo especializado em fusões e incorporações, tem se repetido no país com muita frequência nos últimos meses.
"Toda semana uns dois ou três executivos aparecem aqui no banco com propostas de compra, venda ou associação", comenta o presidente do Banco Real, Paulo Guilherme Monteiro Lobato Ribeiro.
Nenhum banqueiro admite, contudo, estar disposto a vender. Comprar, quem sabe. A regra vale para pequenos e grandes.
O presidente do conselho de administração do gigante Bamerindus, Maurício Schulman, e o presidente do nanico Banco Patente, Manuel Pires da Costa, aceitam estudar propostas de bancos interessados em serem incorporados. Mas avisam que não estão particularmente procurando comprar ninguém. Vender, então, nem pensar.
"Compramos mais de 60 bancos em nossa história. Não estamos fechados a bons negócios", diz Schulman, que também preside a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
"Somos um banco enxuto e temos um nicho de negócios definido. Por enquanto, estamos bem assim, mas se aparecer algo bom, estudaremos", afirma Costa.
Apesar da discrição dos banqueiros, os negócios podem estar mesmo a caminho. Pelo simples fato de que o mercado financeiro está saturado: são 246 instituições, todas viúvas de receitas inflacionárias pré-Real da ordem de R$ 10 bilhões.
O mercado financeiro vai ter que encolher para crescer, disse à Folha, por telefone, o chefe do Departamento de Economia da Universidade de Chicago, o brasileiro José Alexandre Scheinkman. "É um processo irreversível, reforçado pela onda de fusões bancárias no mundo todo."
Estudo do Banco Patrimônio, associado ao americano Salomon Brothers,
prevê que o número de instituições financeiras no país será reduzido para 70 no prazo de três anos. A SR Rating, empresa de classificação de riscos de bancos, estima que irão sobreviver menos de 200 instituições em cinco anos.
Os bancos médios sem ganhos de escala e os pequenos sem vocação definida ou serão comprados, ou fundem-se ou quebram, prevêem os especialistas.
Bradesco e Itaú, os dois maiores privados do sistema (sem contar o Unibanco, que pode destroná-los conforme o resultado da compra do Nacional), não estão parados nesse processo.
O Itaú comprou recentemente o Banco Francês e Brasileiro (BFB), associou-se ao Bankers Trust num banco de investimentos e abriu casas na Argentina e na Europa.
O Bradesco, enquanto arremata participações em empresas do setor industrial, está atento para não perder a liderança.
"Não estamos dormindo no ponto. O preço de muitos bancos vai baixar e, se for um bom negócio, estudaremos", comentou um alto executivo do Bradesco.
Os bancos estrangeiros, então, são os mais ávidos para arrematar bancos e agências nesse novo cenário. Que o digam o Citibank e o Banco de Boston (que tentou comprar o BFB, mas desistiu).
Prováveis herdeiros de agências do Nacional, ambos estão à espreita de pechinchas para crescer no varejo e competir de igual para igual com os grandes nacionais.
"Nossa vocação é o varejo, não dá para crescer sem ampliar nossa rede de agências", comenta Elvaristo do Amaral, vice-presidente do Citibank.
O Citi quer aumentar sua clientela de 90 mil para 220 mil pessoas até o ano 2000.

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