São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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DEUS NÃO MORA NOS TEMPLOS

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tarô, leitura de mãos, anjos, livros de Paulo Coelho e visitas a um centro de umbanda. Esse é o cardápio místico de Vanessa Cassiano, 15.
A menina, assim como muitos outros adolescentes, não segue nenhuma religião, mas acredita em um pouco de tudo.
"Acho que a pessoa não precisa ter uma religião certa. O importante é acreditar em Deus e ter fé. Se você acredita em alguma coisa, então essa é a religião perfeita para você", diz.
Toda a família de Vanessa é católica. "Fui batizada e fiz primeira comunhão, mas sentia que não me identificava com aquilo. Sempre valorizei o meu lado espiritual. Aos poucos, fui pesquisando e encontrei várias coisas que me interessam", diz.
O assunto religião é responsável por discussões na casa da menina. "Meus pais não aceitam muito a minha religião pessoal."
O estudante Fábio Semi, 13, também acredita em Deus, sem seguir nenhuma religião, mas não tem problemas por causa disso.
Ele é filho de uma taróloga e foi acostumado desde cedo com o esoterismo. Sua mãe, além do tarô, joga I Ching e usa o pêndulo (objeto usado para dar respostas afirmativas ou negativas).
Ele acha que Deus "é uma força" e já se aventurou como tarólogo. "Sempre tirava tarô para minha empregada. Uma vez adivinhei quantos filhos ela tinha", diz.
Seu irmão, Thiago Semi, 18, é mais cético. Não acredita em Deus, só nas cartas do tarô.
"Jogo quando estou a fim de uma menina e quero saber se devo chegar junto", diz.
Segundo a psicóloga Cristina Vincentin, os adolescentes procuram o esoterismo seguindo uma tendência da sociedade.
"As pessoas hoje estão sentindo um mal-estar que as leva a uma necessidade de ter respostas rápidas", diz.
A vida sem Deus
Rita Carvana, 17, filha do ator Hugo Carvana, é outra adepta do esoterismo. "Gosto de tarô, anjos e I Ching."
Ela foi criada sem acreditar em nenhuma religião. Não foi batizada porque seus pais achavam que, quando crescesse, ela deveria escolher, se quisesse, a sua própria religião.
"Meus pais nunca me falaram que alguma coisa era pecado. Falavam o que era certo e o que era errado."
Ela acha bom ter tido liberdade para escolher sua própia fé. "Nunca tive problemas com isso. A única coisa chata era quando as pessoas na escola ficavam chocadas por eu não ter sido batizada", diz.
A questão dos jovens que foram criados sem acreditar em nenhuma religião já virou até tema de livro.
"Primeiro, o Amor. Depois, o Desencanto", de Douglas Coupland, lançado originalmente com o título "The Life After God" (a vida depois de Deus), fala da geração que foi criada sem acreditar em Deus.
O Livro é dedicado a Michael Stipe, líder do R.E.M., autor do hit "Losing My Religion" (perdendo a minha fé).

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