São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Baden Powell recebe hoje o Prêmio Shell

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Aos 6 anos, ele roubou o violão de uma tia para tocar escondido. Hoje à noite, Baden Powell, 57, levará ao palco do Canecão, no Rio, filhos, amigos e saudades do Brasil no show em que receberá o Prêmio Shell de Música pelo conjunto de sua obra.
Há um ano morando em Paris, Baden Powell chegou ao Rio na semana passada para preparar os ensaios do show. Não nega que "morre de saudades" do Brasil: "tenho saudade das esquinas".
Ele sabe que criou um estilo de compor ao violão. Aos 15 anos, tocava acompanhando Pixinguinha e Dolores Duran. Aos 18, começou a compor com Vinícius de Moraes. Tem mais de 600 composições e 60 discos.
Philippe, 17, toca piano, e Louis Marcel, 13, aprende violão com o pai. Philippe e Louis Marcel estão entre os artistas convidados para o show de hoje, junto com Emílio Santiago, Márcia e João Nogueira. Pelo show, Baden Powell receberá um cachê de R$ 20 mil. O prêmio inclui R$ 10 mil e um troféu. Entre emocionado e feliz com o prêmio -"é como se fosse o primeiro"- ele concedeu à Folha a seguinte entrevista:

Folha - Como o senhor começou a tocar violão e a compor?
Baden Powell - Meu avô era regente de banda. Meu pai, violinista amador. Ele que deu o meu nome em homenagem ao Baden Powell, criador do escotismo. Quando minha tia ganhou um violão numa rifa, eu comecei a tocar escondido. Meu pai viu que eu tinha jeito e me levou a um professor, aí não parei mais. Saí da escola para tocar violão.
Folha - Como passou a compor?
Baden Powell - Eu não queria o violão tradicional, gostava do Garoto porque ele tocava um violão moderno. Comecei a compor só para mim, era tímido demais. Acompanhando Dolores Duran nas boates, conheci Jonny Alf e Tom Jobim. O Cill Farney me levou para conhecer o Billy Blanco, letrista do Dick. Fui à casa dele e fizemos "Samba triste".
Folha - O senhor pensou em sair da composição popular?
Baden Powell - Nunca. Uma vez me chamaram para tocar clássico, eu olhei para o Vinícius e disse: "vou nada, eu gosto é de samba". Imagine se eu ia querer ficar tocando só clássico, estudando dia e noite. Eu queria era compor. Quando fiz "Samba triste", dei a guitarra elétrica de presente para o Cegóvia, um guitarrista da boate, e me dediquei ao violão acústico.
Folha - O senhor ganha mais dinheiro no exterior ou aqui?
Baden Powell - Lá fora. Faço shows o ano inteiro. Meus direitos autorais estão num escritório na Alemanha. Eles são rigorosíssimos. Acho que sou mais conhecido lá do que no Brasil, exceto no Rio. Mas me sinto reconhecido, não tenho do que reclamar. Eu gosto muito do meu país.

Texto Anterior: Hawks vai à guerra com 'York'
Próximo Texto: Filmes iorubás estreitam laços entre Brasil e África
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.